Em se tratando de filmes de animação, o típico espectador de cinema não está acostumado a ver qualquer coisa muito diferente do tradicional desenho animado para crianças (seja 2D, seja 3D). Representações de violência realista ou sexualidade, por exemplo, parecem bastante deslocadas em uma animação, especialmente para quem ainda não ouviu falar dos hentais. No entanto, tudo o que pode ser feito em um filme em live action pode ser traduzido também pelo formato das animações — desde temáticas sérias, filosóficas ou dramáticas, até produções focadas em aspectos artísticos, explorando a própria arte da animação.
Abaixo, selecionamos 7 recomendações do cinema de animação: alguns são clássicos já bastante cultuados, e outros menos conhecidos — mas todos especiais, à sua maneira, formando uma breve mais diversificada lista de dicas para quem aprecia (ou anda curioso sobre) arte animada e ilustrações.
#1
Gandahar, os Anos de Luz
Gandahar
Paz, amor, deformações genéticas e Skynet
Gandahar é um mundo idílico, uma utopia de rara beleza e serenidade, criado por meio de extensas mutações e experimentações genéticas. Essa paz perfeita, porém, é arruinada quando uma força misteriosa invade Gandahar, transformando seus habitantes em estátuas de pedra. Em resposta à ameaça, o Conselho das Mulheres decide enviar o jovem herói Sylvain, filho da Rainha Ambisextra, em uma missão para destruir o inimigo. A bela e aventureira Arielle o acompanha em sua jornada, e os dois eventualmente descobrem o fracasso final das experimentações científicas gandaharianas: um cérebro gigante, conhecido como Metamorphis, e responsável pela criação de um exército inexpugnável de homens de metal destinado a pôr fim a Gandahar. Sylvain deve confrontar Metamorphis, mas não até 1000 anos no futuro (adaptado de Morpheus).
René Laloux aborda, tanto em Gandahar quanto em outras animações de sua autoria, temas e filosofias facilmente identificáveis com o movimento hippie e pautas dos anos 1970/80, como resgate a uma relação pacífica e harmônica com a natureza, libertação sexual, valorização e celebração dos sexos e apreensão acerca dos avanços científicos (como, por exemplo, deformações físicas causadas por radiação, ou experimentações genéticas). Também são de sua direção as animações Os Mestres do Tempo, Planeta Fantástico e A Prisioneira.
Título: Gandahar, os Anos de Luz
Título original: Gandahar
Diretor: René Laloux
Ano: 1987
País: França
#2
Akira
Gangues de Nova Tóquio
Futuro. 31 anos depois de ser destruída durante a Terceira Guerra Mundial, Tóquio (agora Neo-Tóquio) foi reconstruída e é uma metrópole próspera. O protagonista, Shotaro Kaneda, é líder de uma gangue de motoqueiros. Quando seu amigo Tetsuo é ferido em um acidente, sendo levado até uma instalação ultrassecreta do governo, ele acaba desenvolvendo poderes telecinéticos, Tetsuo, porém, decide usar suas novas capacidades para o mal, ao invés de para o bem. Seus poderes são os mesmos de Akira, a força que destruiu Tóquio no passado. Agora, parece que a história se repetirá (adaptado de Grantss).
Valendo-se de efeitos de animação fabulosos, ótima trilha sonora e certa complexidade em relação aos personagens, Akira desenvolveu ao longo dos anos sua própria legião de fãs. No entanto, não é um filme para todos os gostos: além do excesso de sanguinolência, o tipo de enredo difere muito do modelo norte-americano, às vezes tornando-se repetitivo ou aparentemente sem propósito. Ainda assim, é um dos clássicos essenciais para amantes de anime.
Título: Akira
Título original: Akira
Diretor: Katsuhiro Otomo
Ano: 1988
País: Japão
#3
O Fantasma do Futuro
Ghost in the Shell
News: Ciborgue nua persegue bandidos em Tóquio
O ano é 2029. A tecnologia avançou tanto que os ciborgues tornaram-se algo comum. Além disso, o cérebro humano pode se conectar diretamente a internet. A Major Motoko Kusanagi, uma ciborgue, trabalha como oficial da Seção 9, uma divisão policial secreta de elite que lida com operações especiais, incluindo contraterrorismo e crimes cibernéticos. Ela está atualmente na pista do Mestre das Marionetes, um cibercriminoso que invade os cérebros dos ciborgues para obter informações e cometer outros crimes (adaptado de Grantss).
Ghost in the Shell foi um dos primeiros animes a combinar habilmente a animação tradicional, desenhada, com imagens computadorizadas. Essa mistura bem-sucedida dá ao filme uma ambiência surreal. Reverenciado até hoje como um dos clássicos do cinema de anime, o filme é ainda bastante lembrado por ter inspirado vários dos temas e conceitos centrais de Matrix, bem como o estilo cyberpunk presente tanto no visual quanto na trilha sonora.
Título: O Fantasma do Futuro
Título original: Ghost in the Shell
Diretor: Mamoru Oshii
Ano: 1995
País: Japão
#4
O Conto da Princesa Kaguya
Kaguya-hime no Monogatari
Uma lenda japonesa em poucos traços e aquerelas
Um velho ganha a vida vendendo bambu. Certo dia, ele depara-se com uma princesa dentro de um dos bambus. A princesa mede apenas o tamanho de um dedo. Seu nome é Kaguya. Quando Kaguya cresce, tornando-se uma mulher belíssima e requintada, cinco homens de famílias prestigiosas a pedem em casamento. Kaguya solicita aos homens que encontrem presentes de casamento memoráveis para ela, mas nenhum deles consegue encontrar o que Kaguya deseja. Eis que, então, o próprio Imperador do Japão a pede em casamento. Por onde passa, a misteriosa princesa cativa a todos quantos a encontram, mas, para seu desespero, ela deverá enfrentar um destino inescapável — a punição por seu crime.
Baseado no folclórico Conto do Cortador de Bambu (Japão, século X), esta é outra das lindas e tocantes produções do Studio Ghibli. O estilo de animação é bastante simples e minimalista, porém elegante, uma reminiscência das antigas aquarelas japonesas. Assim, diferentemente de outros filmes desta lista, Princesa Kaguya vai no sentido inverso do futurismo de ação: trata de um tempo mítico, de um passado japonês poetizado (tanto em sua narrativa quanto nos traços e cores que compõem a animação).
Título: O Conto da Princesa Kaguya
Título original: Kaguya-hime no Monogatari
Diretor: Isao Takahata
Ano: 2013
País: Japão
#5
A Menina e o Ovo de Anjo / Angel´s Egg
Tenshi no Tamago
Menina-Sem-Nome no País da Melancolia
Em um mundo de ruínas, sombras e melancolia, uma jovem solitária insiste em proteger um ovo misterioso, para ela extremamente precioso. Seu esconderijo situa-se nas proximidades de uma grande cidade gótica abandonada e decadente, habitada por sombras inquietas. Um dia, um jovem viajante aproxima-se dela e ganha sua confiança. Hora ou outra, eles conversam sobre tópicos filosóficos ou teológicos obscuros, e ela mostra a ele alguns fósseis surpreendentes e obras de arte históricas e científicas (adaptado de Rev. Elgaroo Brenza).
A Menina e o Ovo de Anjo é um drama assombroso, etéreo, mais interessado em explorar imagens, ambientações e sensações do que enredo ou caracterização. Entre a esperança ingênua da menina e o pragmatismo enigmático de seu amigo, desvela-se um universo fantasmagórico de pesadelos. E como muitas obras de arte, o filme recusa-se a responder as perguntas que desperta, com um final ambíguo e desconcertante.
Título: A Menina e o Ovo de Anjo / Angel´s Egg
Título original: Tenshi no Tamago
Diretor: Mamoru Oshii
Ano: 1985
País: Japão
#6
Vampire Hunter D
Faroeste dos vampiros do futuro
No passado, os vampiros eram os governantes da noite. Milhares de anos no futuro, porém, eles passaram a ser exterminados por destemidos caçadores de recompensas. Um desses caçadores é D, o filho mestiço de uma mãe humana e um pai vampiro. Quando uma garota de família rica é levada de sua casa pelo vampiro Meier Link, seu pai contrata D e os irmãos Markus (um grupo rival de caçadores) para resgatá-la. Enquanto os heróis abrem caminho através dos guardas contratados de Meier, entretanto, eles começam a suspeitar que a garota pode ter ido com ele de boa vontade (adaptado de Lordship).
O estilo de Yoshiaki Kawajiri é tão detalhado, tão preciso, que tem-se a impressão de que cada frame da animação foi cuidadosamente elaborado e aperfeiçoado como uma obra de arte por si só. Em termos de história, trata-se de uma mistura eclética de terror gótico, ficção científica, faroeste e filme de samurai. Repleto de grandes momentos, talvez o melhor seja seu final culminante — absolutamente inesquecível (adaptado de juubei-2).
Título: Vampire Hunter D
Título original: Vampire Hunter D
Diretor: Toyoo Ashida
Ano: 1985
País: Japão
#7
Fogo e Gelo
Fire and Ice
Testosterona, estrogênio e outras poções fantásticas
De sua fortaleza no Pico de Gelo, a maldosa Rainha Juliana e seu filho, Nekron, assolam o mundo com ondas de geleiras, forçando a humanidade a recuar para o sul em direção ao Equador. Não bastasse isso, Nekron envia uma delegação ao Rei Jarol, na Guarda do Fogo, para solicitar sua rendição. Esta delegação, porém, é um estratagema orquestrado pela Rainha Juliana para que as criaturas sub-humanos de Nekron sequestrem a filha do Rei Jarol, a Princesa Teegra. Sua intenção é forçar a Princesa a casar-se com ele, a fim de produzir um herdeiro. Horrorizada, Teegra foge, o que a leva a deparar-se com Larn, um jovem guerreiro e único sobrevivente de uma vila destruída por geleiras. Larn se oferece para escoltá-la de volta à Guarda do Fogo, apesar dos terríveis desafios que os esperam (adaptado de Mohammed Salman Khan).
Fogo e Gelo é a adaptação realizada por Ralph Bakshi com base no mundo fantástico do legendário Frank Frazetta (que inclusive participou da criação do filme). Com um típico enredo de bons contra maus, o filme só faz pausas para preparar a próxima cena brutal de combate, geralmente envolvendo espadas, machados, lanças e flechas. Apesar de não ser nenhuma obra-prima da animação, Fogo e Gelo é de particular interesse para fãs de aventuras fantásticas como as de Conan, O Bárbaro, O Senhor dos Anéis (cuja trilogia animada foi produzida por Ralph Bakshi), Dungeons & Dragons e Game of Thrones.
Título: Fogo e Gelo
Título original: Fire and Ice
Diretor: Ralph Bakshi
Ano: 1983
País: Estados Unidos