O Velho, o Rapaz e o Burro - Fábulas de Esopo | Fantástica Cultural

Artigo O Velho, o Rapaz e o Burro - Fábulas de Esopo
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O Velho, o Rapaz e o Burro - Fábulas de Esopo

Autores Selecionados ⋅ 1 nov. 2024
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Não seja escravo do julgamento alheio.

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Um dia, há muito, muito tempo, um velho e o filho resolveram ir mercado vender o burro que tinham. Seguiam a pé, pois achavam que venderiam melhor o burro se ele chegasse descansado ao mercado.

No caminho, cruzaram-se com alguns viajantes, que começaram a troçar deles:

— Olhem aqueles tolos, têm burro e vão a pé. O mais estúpido dos três não é quem se esperaria.

O velho não gostou que troçassem dele e disse ao filho que se montasse no burro.

Um pouco mais adiante passaram por três mercadores.

— Mas o que é que temos aqui?! — disse um deles. — Respeita os mais velhos, meu jovem. Desmonta e deixa o teu pai ir montado no burro, que já é muito velho para ir a pé.

Embora ainda não estivesse cansado, o velho mandou apear o filho e montou ele no burro.

Andaram um pouco mais até que encontraram um grupo de mulheres que também ia para o mercado com cestos de hortaliças para vender.

— Olhem para estes — disse uma delas. — A pobre criança a pé e ele todo repimpado no burro.

O velho sentiu-se um tanto vexado, mas para se mostrar agradável pediu ao filho que montasse atrás dele no burro.

O rapaz obedeceu e continuaram a viagem com os dois montados no burro. Um pouco mais adiante, um grupo de pessoas interpelou-os com indignação:

— Mas que crime, será que quereis matar o burrinho? Pareceis mais capazes vós de carregar o burro do que o contrário.

O velho e rapaz não tardaram a desmontar, e passado um bocado, quase a chegarem ao mercado, gerou-se um enorme burburinho ao verem os dois carregando o burro atado num pau que transportavam de ombro a ombro. Juntou-se uma multidão para observar tão estranha cena.

O burro não se importava muito de ser carregado aos ombros, mas quando a multidão se aproximou e começou a rir e a troçar, ele desatou a zurrar e a escoucear, e, precisamente quando iam a atravessar uma ponte, as cordas que o prendiam soltaram-se e o burro caiu ao rio e foi arrastado pela corrente.

O pobre do velho regressou então tristemente a casa. Querendo agradar a todos, acabou por não agradar a ninguém e ainda ficou sem o burro.


Moral da História:

Além de ensinar que não se pode (nem se deve) agradar a todos, esta fábula ilustra nossa tendência a julgar os outros sem conhecer de fato suas circunstâncias. Ao aceitar o julgamento moral de estranhos, apesar de contraditórios e baseados na ignorância, o velho homem precisou contorcer-se para se encaixar no padrão ético de cada um, mas por fim, acabou sendo reprovado por todos. Tivesse ele seu próprio código moral, o qual seguisse sem se perturbar com a opinião desinformada de estranhos, teria obtido melhor destino.


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