Frida Kahlo é, se dúvida, uma das artistas plásticas mais famosas e celebradas da atualidade. Embora não tenha sido amplamente reconhecida durante sua carreira, foi após a sua morte — em especial a partir dos anos 1970, com o ativismo feminista — que sua figura, até mais do que sua obra, passou a ser reconhecida.
Enquanto muitos artistas retratam o mundo, o externo, o tema das pinturas de Frida concentra-se em sua própria pessoa, em sua vida, em suas emoções e em sua visão de mundo. Um número impressionante de suas obras são autorretratos, nos mais variados arranjos.
Eu pinto a mim mesma porque frequentemente estou sozinha, e eu sou o tema que eu conheço melhor.
— Frida Kahlo
Sua vida não foi das mais felizes. Tendo enfrentando a poliomielite na infância, que impedira o desenvolvimento normal de sua perna direita, e um grave acidente de trânsito na juventude, que a obrigou a realizar diversas cirurgias na coluna, a dor física, a depressão, a angústia e a dificuldade em se mover acabaram transbordado para suas pinturas.
Frida nasceu em família de classe média, no México, filha de um fotógrafo alemão, de descendência húngaro-judaica, e de uma nativa mexicana, de descendência ameríndio-espanhola. Foi uma das poucas mulheres a frequentar a Escola Preparatória Nacional na Cidade do México, onde conheceu seu futuro marido, o pintor Diego Rivera.
Esta, aliás, é outra fonte de suas angústias. Embora o casal tenha vivido seus primeiros anos em São Francisco, nos Estados Unidos, e depois em Nova York, devido às necessidades da carreira de Rivera, em pouco tempo o relacionamento tornou-se tumultuoso, em parte por causa dos diversos casos extraconjugais do pintor (inclusive com uma das irmãs de Frida). Ao longo das décadas, Frida e Rivera separaram-se alguma vezes, ora deixando de se ver, ora reatando a relação, mas morando em casas separadas.
Devido à sua condição física, Frida descobriu-se incapaz de ter filhos — algo que ela muito desejava. Um aborto espontâneo foi retratado em uma de suas pinturas, juntando-se a outras representações um tanto mórbidas da reprodução feminina (gestação, parto, amamentação, aborto, etc.).
Em grande parte de suas obras notam-se traços do surrealismo e realismo mágico, arranjos fantásticos, caóticos, como visões de um sonho. Não à toa, ela veio a conhecer e formar amizade com André Breton, um dos nomes principais deste movimento.
Na verdade, não sei se minhas pinturas são surrealistas ou não, mas sei que são a expressão mais franca de mim mesma. Como meus temas sempre foram minhas sensações, meus estados de espírito e as reações profundas que a vida vem produzindo em mim, muitas vezes objetifiquei tudo isso em figuras de mim mesma, que eram a coisa mais sincera e real que eu poderia fazer para expressar o que eu sentia dentro e fora de mim. — Frida Kahlo
Em meio aos autorretratos e outros temas caros a Frida, notamos a presença do silvestre e exótico (animais como macacos, aves, plantas, florestas, frutas), geralmente retratados sem uma preocupação com alguns aspectos do realismo como perspectiva e iluminação, como era comum entre as vanguardas modernistas. Ainda assim, Você também pode gostar: Remedios Varo - Surrealismo Esotérico do Feminino e do Masculino Frida nunca teve educação formal em artes plásticos, sendo por isso classificada como artista naïve (termo reservado aos "não iniciados" academicamente).
Hoje, Frida é considerada um ícone do feminismo — mas as razões para isso não são claras. Frida nunca se declarou feminista, e é mais provável que sua associação tardia à ideologia feminista deva-se à carência de ícones (personalidades célebres) para servir de slogans ao movimento em diferentes domínios do conhecimento humano. A física e química Marie Cury, por exemplo, é frequentemente citada como figura-modelo no ativismo feminista, atrelada à ciência, assim como ocorre com Amelia Earhart, pioneira em aviação, mas nenhuma delas de fato aderiu ao feminismo.
O que se pode dizer, sem dúvida, é que Frida era ferrenha defensora do comunismo. Ela chegou a pintar a figura de Karl Marx estrangulando o Tio Sam (Estados Unidos), este com um corpo de águia (símbolo do país). Esta obra ela nomeou "Marxismo dará saúde aos doentes". Ironicamente, boa parte da renda de Frida e Diego vinha da classe rica norte-americana, inclusive do próprio banqueiro bilionário Nelson Rockefeller.
Foi apenas quando Diego Rivera decidiu, por conta própria, pintar um retrato do revolucionário russo Vladimir Lenin em um projeto financiado por Rockefeller, como forma de propaganda política, que o bilionário achou por bem encerrar seu suporte financeiro ao artista, obrigando-o a voltar para o México — levando Frida consigo.
Em uma de suas pinturas, vemo-la posando ao lado de um retrato de Joseph Stalin, primeiro ditador da União Soviética. Mais tarde, um dos aliados de Stalin, Leon Trótski, passou a ser perseguido pelo regime soviético, indo refugiar-se na Cidade do México, na casa de Frida. A essas alturas, devido aos conflitos internos do comunismo, Frida passara a apoiar o lado de Trótski — e, ao mesmo tempo, tornou-se sua amante (apesar de a esposa do enteado ter vindo junto com ele). Stalin, entretanto, contratou o revolucionário comunista Ramón Mercader para assassinar Trótski, em retaliação à dissidência. Ramón atacou Trótski pelas costas com um machado, na residência de Frida, e o russo acabou morrendo após ser levado para um hospital. Era o fim do affair.
Abaixo, foram selecionadas 50 dentre as pinturas mais interessantes e representativas de Frida Kahlo.