O sacrifício humano estava no centro da civilização asteca. A cada ano, entre 10 e 20 mil vítimas morriam em rituais religiosos usualmente realizados no topo das pirâmides-templos. Os astecas acreditavam que essas cerimônias eram essenciais para a sobrevivência deles: sem derramar sangue humano e oferecer corações para nutrir o sol e outros deuses, o mundo seria destruído.
A maioria dos escolhidos para o sacrifício eram homens, geralmente prisioneiros de guerra. O método de matar variava de acordo com o deus a ser reverenciado. As vítimas para Xipe Tótec, deus da primavera e protetor dos ourives, eram mortas ritualmente por guerreiros e depois esfoladas. As peles eram usadas durante vinte dias por sacerdotes.
A forma mais comum de sacrifício, no entanto, era a usada em honra de Huitzilopochtli, o deus Sol. Vestido apenas com uma tanga, o corpo da vítima era geralmente pintado com listras verticais vermelhas e brancas. Ela subia pela escada íngreme da frente do templo, chegando à plataforma diante do santuário do deus, onde era agarrada por quatro sacerdotes de cabelos longos. Cada um deles pegava um membro e estendiam a presa sobre um bloco de pedra de 50 centímetros de altura. Um quinto sacerdote, empunhando uma faca de pedra afiadíssima, dava um golpe lateral rápido no peito, cortando de lado a lado o esterno e as costelas. O coração ainda palpitante era arrancado e erguido para o sol e as imagens do deus eram untadas com o sangue quente.
No topo do Grande Templo de Tenochtitlán (acima) havia dois santuários. Um deles, decorado em azul, era dedicado a Tláloc, o deus da chuva. Do lado de fora, um Chac Mool recebia o coração de suas vítimas. O outro, pintado de vermelho e ornado com um friso de crânios humanos, era o de Huitzlopochtli, deus do Sol; suas vítimas eram estendidas para o sacrifício sobre um bloco de pedra vulcânica.
Em geral, os corações eram colocados em vasos de pedra, mas os oferecidos ao deus da chuva, Tláloc, eram depositados em recipientes seguros por Chac Mools (imagem abaixo), esculturas em pedra de homens reclinados, com a cabeça virada para o lado e um receptáculo sobre o ventre. Deixava-se o corpo da vítima rolar escada abaixo até a praça, onde era decapitada; a cabeça era espetada numa estrutura de madeira conhecida como a prateleira de crânios.
Algumas poucas vítimas importantes eram escolhidas para personificar os próprios deuses. Anualmente, um jovem de físico perfeito era selecionado para ser a encarnação do deus da guerra, Tezcatlipoca. Ao longo do ano, gozava uma vida de prazer; aprendia a tocar flauta, usava joias de ouro e roupas principescas, fumava tabaco e era reverenciado por todos. Vinte dias antes do sacrifício, casava-se com quatro esposas. Quando amanhecia o dia marcado, deixava-as para subir sozinho a escada do templo, quebrando uma flauta de barro em cada degrau até o topo, onde era agarrado e tinha o coração arrancado. Mulheres jovens eram escolhidas para personificar a deusa do milho; acabavam decapitadas, para simbolizar a colheita das espigas.
Os primeiros relatos que chegaram à Europa sobre o Império Asteca foram intermediados pelas expedições de Hernán Cortez. Em sua visita à cidade de Tenochtitlán, agigantavam-se as imensas pirâmides e seus santuários de cores brilhantes, em cujos topos a barulheira do mercado não passava de um murmúrio.
Cada distrito tinha seu próprio templo, mas o santuário nacional, o mais importante do império, ficava bem no centro da cidade. Tratava-se do Recinto Sagrado, pavimentado de branco e dominado pela pirâmide de 40 metros de altura que continha os santuários de Huitzilopochtli e de Tláloc.
Escadas íngremes, manchadas pelo sangue das vítimas sacrificiais, levavam ao lugar sagrado dos deuses, onde suas imagens, incrustadas de ouro e pedras preciosas, eram servidas por sacerdotes de mantos negros, cabelos emaranhados de sangue e línguas e orelhas esfrangalhadas pela automutilação constante. Diante das imagens estavam os blocos de pedra sobre os quais se realizavam os sacrifícios humanos.
Bernal Díaz, companheiro do conquistador espanhol Hernán Cortez, que foi levado aos santuários pelo próprio Montezuma (tlatoani, ou imperador asteca), observou também "alguns braseiros fumegantes do incenso deles, ao qual chamam de copai, nos quais estavam queimando os corações de três índios que tinham sacrificado naquele dia".
Fonte:
ALLAN, Tony (Dir.). Viagens de descobrimento (1400-1500). Rio de Janeiro: Abril, 1991.