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Breve Biografia dos Irmãos Grimm, Mestres dos Contos de Fadas

Autores Selecionados ⋅ 24 out. 2023
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Era uma vez dois irmãos contadores de histórias...

Texto de Luciana Sandroni


Irmãos Grimm
Irmãos Grimm

Era uma vez dois irmãos, Jacob e Wilhelm, que moravam em terras distantes com os pais e adoravam ler e estudar. Um dia, porém, com a morte repentina do pai, a família caiu na miséria, e os dois saíram pelo mundo em busca de trabalho. A mãe deu a eles uma sacola com um lanche, moedas, e desejou boa sorte.

No caminho até a cidade, os irmãos entraram numa floresta, onde se perderam. Estavam ali aflitos quando, de repente, encontraram uma velha sentada num galho de uma árvore:

— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntou ela.

— Vamos para a cidade procurar trabalho, mas nos perdemos — disse Jacob.

— E o que vocês sabem fazer?

— Nada... Quer dizer, sabemos ler, estudar...

— Ah, que bom! — exclamou a velha, pulando do galho com muita agilidade. — Já tenho um trabalho para vocês. Quero que ouçam as histórias que o povo conta. São muito antigas, do tempo que os bichos falavam. Escrevam tudo e não mudem uma só vírgula! Depois tragam para mim o que escreveram e em troca lhes darei muitas moedas de ouro. A cidade é naquela direção — disse, apontando.

Os irmãos perceberam que aquele era um trabalho perfeito para eles. Então, correram atrás de camponeses, sapateiros, alfaiates, moleiros, lenhadores, caçadores, pastores de ovelhas, enfim, todos que tinham uma história bem antiga contada pela avó, que, por sua vez, tivesse ouvido da avó dela. Anotaram mais de duzentas histórias, cada uma mais mirabolante que a outra.

perdidos na floresta conto de fadas

De volta à floresta, procuraram pela velha, mas ela tinha desaparecido, como por encanto.

— E agora? — perguntou Wilhelm.

— Vamos voltar para casa. — respondeu Jacob, jogando a papelada no chão.

De repente, uma raposa desceu de uma árvore e disse:

— Por que vocês não publicam um livro com essas histórias? Aposto que ficarão ricos!

Os dois, sem pestanejar, retornaram à cidade, e um editor se entusiasmou pelos contos:

— Isso aqui vai vender que nem banana, maçã e batata na feira!

Dito e feito: o livro fez um grande sucesso. Os dois voltaram para casa com a bolsa abarrotada de moedas de ouro. Foi a maior alegria. E até hoje os contos dos irmãos Grimm encantam crianças e adultos da Alemanha e de todos os países do mundo.


* * *


Irmãos Grimm
Irmãos Grimm

Vamos sair da ficção e falar um pouco sobre a vida real dos dois escritores, os Irmãos Grimm. Jacob e Wilhelm Grimm nasceram em Hanau, no estado de Hessen, na Alemanha, em 1785 e 1786. A mãe, Dorothea Grimm, teve nove filhos, porém somente seis sobreviveram. O pai, Philipp Wilhelm Grimm, era funcionário da Justiça. Com a sua morte, em 1796, a família ficou com sérios problemas financeiros, e Jacob e Wilhelm foram morar com a tia na cidade de Kassel. Lá estudaram para ingressar no curso de Direito.

Na universidade, um professor notou a aptidão dos dois para a pesquisa e abriu as portas de sua biblioteca. Os irmãos se encantaram pelas obras do romantismo alemão, que venerava as lendas e os mitos populares. Começaram trabalhando como bibliotecários e se tornaram amigos dos escritores Achim von Arnim e Clemens Brentano — também Você também pode gostar: Os Melhores Contos de Fadas envolvidos com a tradição oral alemã —, que indicaram algumas obras importantes com registros de narrativas da Idade Média, como o livro Conto dos contos, de histórias orais italianas recolhidas por Giambattista Basile, de 1634.

O amor pela língua alemã e pela literatura foi tanto que Jacob e Wilhelm abandonaram o Direito e se tornaram filólogos, estudiosos da gramática, professores universitários e pesquisadores do conto popular. Eles colecionaram muito material impresso até, finalmente, passarem para as fontes orais. Reuniam-se com amigos, e cada um contava histórias que ouvia na infância. Alguns empregados também colaboravam com mais contos, como é o caso de Katharina Dorothea Viehmann, camponesa, que narrou 37 contos e foi homenageada na introdução do livro Contos de fadas para o lar e as crianças (Kinder-und Hausmärchen), de 1815:

Tivemos uma boa oportunidade quando conhecemos uma camponesa da aldeia de Niederzwehren, perto de Kassel. Ela nos contou a maior parte dos mais belos contos do segundo volume. A senhora "Viehmännin" [...] guardava cuidadosamente, de memória, velhas lendas e costumava dizer que esse dom não é dado a todos e que há os que não conseguem conservar coerentemente as coisas para transmiti-las. Falava lentamente, com segurança e incrível vivacidade. A princípio, narrava as histórias com muita rapidez; depois, era só pedir que ela contava tudo devagar, de modo que se conseguia acompanhar escrevendo.

Os contos dos irmãos Grimm fizeram grande sucesso na Alemanha e, mais tarde, foram traduzidos por toda a Europa. No século XX, as histórias foram adaptadas por Walt Disney e tornaram-se clássicos ainda mais populares — infelizmente com muitas adaptações, mas sem perder a magia.

Ler os seis volumes de Contos e lendas dos Irmãos Grimm, da antiga Edigraf, com tradução de Íside M. Bonini, foi uma experiência única. Muitas histórias são conhecidas das crianças, mas a maioria delas não. Essas me surpreenderam pelas narrativas sem fim e a quantidade de tarefas que o herói e a heroína precisam cumprir.

Desse grupo, destaco alguns contos:

  • Os dois irmãos
  • Os dois companheiros de viagem
  • A alface mágica
  • Os quatro irmãos habilidosos
  • As três folhas da serpente
  • Os seis criados
  • O príncipe e a princesa
  • O pescador e sua esposa
  • Outro grupo de histórias divertidas tem um tema bem recorrente: o do filho caçula menosprezado pela família, mas que, no final, vence os obstáculos e triunfa. Nele destaco:

  • O homem que queria ter medo
  • O ganso de ouro
  • O grifo
  • As três penas
  • Os "contos anedotas" também valem um registro, e são críticos e muito engraçados:

  • O doutor Sabe-tudo
  • Margarida, a esperta
  • O camponesinho no céu
  • O alfaiate valente

Um tema que chamou a atenção foi o das personagens femininas decididas e obstinadas, como em O ouriço-do-mar, em que a princesa, não querendo casar em hipótese alguma, resolve baixar um decreto: só se casará com o homem que se esconder tão bem que seja impossível descobri-lo. Os pretendentes descobertos serão degolados, e suas cabeças enfeitarão o muro do castelo. A princesa ainda proclama aos quatro ventos: "Assim viverei livre e feliz o resto da minha vida!"


Leia os contos mais famosos dos Irmãos Grimm

Que tal? Os contos de fadas sempre atuais... Também no mesmo clima, temos Os doze caçadores, em que a princesa se disfarça de homem para se aproximar do amado e salvá-lo de um feitiço.

Já os contos Branca de Neve, Cinderela, Rapunzel, A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho e João e Maria formam um grupo de narrativas mais conhecidas do público. Mas aqui vale uma lembrança: estes são contos originais, cujos detalhes foram amenizados nas adaptações: aqui as irmãs da Cinderela são incentivadas pela mãe a cortar os dedos ou o calcanhar para que o sapatinho caiba em seus pés. E na versão dos Grimm não há fada madrinha...

pena e tinteiro

Fonte:

SANDRONI, Luciana. Introdução. In: GRIMM, Wilhelm Karl; GRIMM, Jacob Ludwig Karl. Os 77 melhores contos de Grimm. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

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