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Artigo Maldito Seja o Homem de Bem
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Maldito Seja o Homem de Bem

Por Paulo Nunes ⋅ 28 out. 2023
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Eu? Homem de bem? Deus me livre!

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Você já deve ter ouvido algo parecido. Já deve ter escutado gente criticando quem se diz "homem de bem", com raiva e desprezo. Talvez você seja uma destas pessoas, que se indignam com a expressão "homem de bem", e apenas a usa de forma irônica, ou como cinismo.

Que diabos há de errado como o homem de bem?

A princípio, pode parecer simples. Quem critica os ditos homens de bem são, quase sempre, pessoas que se dizem de esquerda. O que elas enxergam são homens de direita, seus oponentes políticos, enaltecendo valores morais. Em sua visão, esta defesa de valores só pode ser pura hipocrisia, pois para eles, qualquer ser humano de direita ou conservador é uma espécie de monstro.

Assim, o cinismo estaria explicado: esquerdistas debocham dos homens que se declaram de bem porque acreditam que no fundo eles são homens maus e hipócritas.

Mas não é nada disso.

A crítica, o ódio e o desprezo não são voltados ao falso homem de bem. São voltados ao verdadeiro.

Um homem de bem, segundo o entendimento normal, não é uma bastião de virtudes, um super-herói, um Jesus reencarnado. Não, o homem de bem é meramente o homem normal, que não comete crimes, que procura ser ético, que acredita em valores morais, que se esforça no trabalho, e que geralmente forma uma família e cuida dela. É uma pessoa comum, com suas falhas, suas fraquezas, seus deslizes, mas que representa, na soma geral, uma força positiva nos ambientes que ocupa e na comunidade em que vive.

O problema é que este homem de bem não é um revolucionário, não é um coletivista, e está ocupado demais cuidando de sua família, de sua carreira ou de sua empresa para se engajar em lutas sociais.

O que segue são as cinco características principais que a extrema-esquerda odeia no "homem de bem":

1. Ele geralmente é cristão

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Boa parte da extrema-esquerda é contra o cristianismo, devido à relação histórica desta religião com a Europa, com a colonização, com a conversão de indígenas, com a Inquisição, entre outros fatores. Todos os pecados do passado são atribuídos ao homem cristão do presente.

Aqui entra o cinismo, e afirma-se (direta ou indiretamente) que todo cristão é hipócrita e secretamente um pervertido. Como a esquerda de alinhamento socialista é sempre influenciada pelas ideias de Marx (ainda que os menos informados não o saibam), o que se promove, na verdade, é a desconstrução da religião — o "ópio do povo", nas palavras de Marx.

A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo. A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. — Karl Marx, "Crítica da filosofia do direito de Hegel"

2. Ele é chefe de família

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Outro bastião a ser derrubado pela extrema-esquerda são os papéis de gênero (mesmo quando estes são voluntariamente escolhidos pelo homem e pela mulher, assim como ocorre em todas as civilizações desde o início dos tempos, algo que continua sendo aceitável para os ativistas quando ocorre entre indígenas, islâmicos, etc.). Também dentro da tradição socialista está o intuito de minar o núcleo familiar tradicional, algo reforçado posteriormente por incontáveis pensadores marxistas, dentre eles a feminista Simone de Beauvoir:

Enquanto a família e o mito da família e o mito da maternidade e o instinto materno não tiverem sido destruídos, as mulheres ainda serão oprimidas. — Simone de Beauvoir, "Sex, society and the female dilemma: a dialogue between Simone de Beauvoir and Betty Friedan"

O filósofo marxista Jean-Paul Sartre, talvez por ter sido casado com a própria Simone de Beauvoir, chega a esta conclusão (pondo-me no lugar dele, eu pensaria o mesmo):

Uma família é uma verdadeira pilha de m*rda. — Jean-Paul Sartre, Witness to my life: the letters of Jean-Paul Sartre to Simone de Beauvoir, 1926-1939

3. Ele é trabalhador e bem-sucedido

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Em vez de buscar auxílio com políticos, o homem de bem, em geral, é trabalhador e entende que ninguém lhe deve nada. Ele não quer reivindicar nada. Ele persegue seus objetivos via trabalho e negociação, esforça-se, não transfere culpa a terceiros, e tende a ser bem-sucedido com o passar do tempo, como resultado de seus méritos.

Outra vez, são ativistas da extrema-esquerda que enxergam problema nisso: o homem trabalhador não depende do Estado, não quer auxílios, bolsas, e não deseja depender de ninguém. Na visão marxista, não é o mérito, mas a opressão que gera todas as diferenças de renda — e, portanto, o homem bem-sucedido é visto como privilegiado, usurpador da sociedade. Entra a inveja, travestida de "combate pela justiça social".

Veja como Sergio Fanjul, repórter do El País, retrata os esforços de carreira:

"Você pode conseguir o que você quiser, você deve empreender, você deve sair da sua zona de conforto e romper seus limites." [Esta] é uma doutrina própria do capitalismo vigente que premia especialmente o individualismo e a competição, sob a ideia meritocrática de que quem mais trabalhar será o mais bem-sucedido. — Sergio C. Fanjul, A meritocracia é uma armadilha (El País, 18 jul. 2021)

Ao internalizar estas ideias, o indivíduo concluirá que não faz sentido se esforçar, porque o sistema inteiro está contra ele. Essa mentalidade irá arruinar suas chances de ser bem-sucedido. Se é difícil com esforço, sem o esforço é impossível. "Não saia da sua zona de conforto, não empreenda, não se esforce" são as dicas do El País. Parabéns, Sergio Fanjul!

4. Ele busca melhorar a si e à sua família, não o resto do mundo

Pensar em fazer grandes coisas é o melhor pretexto para não fazer as pequenas. — Jacinto Benavente

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Você não verá o "homem de bem" indo a muitas passeatas, protestos, ou participando de greves. Raramente. Ele não estará postando seu apoio à causa A ou B nas redes sociais. Isso porque ele não pode parar uma guerra, mudar o resultado de uma eleição, salvar o planeta de catástrofes ambientais. Se ele faz a sua parte, ele a faz sem alarde. Seu foco são as coisas que ele pode afetar: suas responsabilidades.

Não é por acaso que esta palavra — responsabilidade — é tão odiada não apenas por crianças e adolescentes, mas por ativistas e militantes. O ser humano infantilizado não quer ter responsabilidades; porém, ele quer o poder, ele quer se sentir fazendo coisas grandes e importantes. É assim que temos ativistas incapazes de manter um cactos vivo por mais de um mês, mas que ocupam horas, todos os dias, tentando mudar o mundo com discussões inconsequentes nas redes sociais.

Por seu pragmatismo (apenas se esforçando onde há chance de transformação), o homem responsável pode ser visto como indiferente às causas sociais, às injustiças, ou mesmo como cúmplice. E ao dizer "limpe o seu quarto antes de tentar salvar o mundo", nos termos do Dr. Jordan Peterson, ele será naturalmente odiado por indivíduos infantilizados, irresponsáveis e mergulhados em alguma ilusão ideológica, utópica.

5. Ele possui um compasso moral

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Eis por que o homem de bem é dito "de bem": ele acredita em um compasso moral, e busca segui-lo.

Estranhamente, isso é inadmissível para a extrema-esquerda, para quem moral é sinônimo de opressão. Outra vez, poderíamos pensar que a crítica se dá contra a repressão conservadora, à "moral e bons costumes" da época da ditadura brasileira que restringia direitos humanos a certos grupos (como gays e lésbicas, por exemplo). Mas não, não é nada disso.

A extrema-esquerda é contra o cultivo de virtudes no âmbito privado. Alguém já ouviu um ativista marxista falando em virtudes, especialmente na conduda pessoal? Apesar de buscarem desconstruir a ética tradicional, eles não oferecem nenhum substituto para os padrões morais anteriores. Não há uma proposta de novos padrões de moral e bons costumes. Por quê? Porque na luta pelo poder, valores morais são um empecilho. Regras que não podem ser transgredidas (isto é, uma ética universal) seriam contraproducentes em sua luta ideológica. Em primeiro lugar porque, em sua busca pelo "bem maior", eles encontram a justificativa para violar qualquer princípio ético; é por isso, por exemplo, que vemos pessoas defendendo que a economia quebre, e que gente sofra e passe fome como consequência, para que na próxima eleição votem diferente (os fins justiticam os meios). E em segunda lugar, porque estes ativistas e seus apoiadores defendem abertamente indivíduos que transgridem princípios éticos (os bandidos, que só seriam bandidos devido às opressões sociais); enquanto o "cidadão de bem" é criminoso ao agir bem, o assaltante é inocente ao agir mal.

Além disso, existe o fator espelho.

O militante, ou o defensor de militantes, vê o "homem de bem" vivendo com aparente virtude, bem-vestido, com boa postura, finanças em dia, casado e com filhos, e não consegue processar mentalmente como este monstro (pois só pode ser um monstro, já que é um adversário político) possa parecer mais ético e responsável do que ele.

homens discutem nova forma de masculinidade desconstrucao

O típico ativista de extrema-esquerda é malvestido, pálido, esquálido (ou obeso), barba mal aparada, cabelo desgrenhado (ou colorido), péssima postura; está sempre desempregado, parasitando em universidades, vivendo de bolsas-auxílio, pratica uma linguagem vulgar, é pelo menos em parte dependente de drogas e encontra-se frequentemente bêbado. Ele sabe, internamente, que é um homem incompleto, um ser humano incompleto, ainda não amadurecido, e tenta compensar com seu ativismo, com "coisas que defende", sem precisar de fato tomar responsabilidade por nada, e consequentemente sem nunca conquistar nada de valor. Não é à toa que ele odeia o típico "homem de bem", e o chama de fascista.



Portanto, não complique mais do que o necessário. Quando alguém critica o homem de bem, o sentido é simples: esta pessoa defende homens do mal. Todo o resto são desculpas.

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foto do autor

Paulo Nunes

Escritor, editor, ilustrador e pesquisador



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