Qual será a melhor filosofia para adotarmos em nosso sistema educacional: a de Paulo Freire ou o estoicismo? Deparei-me com esta questão recentemente em um fórum na internet. A princípio, não entendi por que a escolha se limitava apenas a estas duas correntes de pensamento. Logo, porém, juntei os pontos e percebi do que se tratava: lócus de controle.
Em psicologia, lócus de controle (ou "local" de controle) "é a crença que uma pessoa possui de poder ou não controlar os eventos de sua vida". É a percepção que temos sobre nossa capacidade de controlar nosso destino.
Pessoas com um lócus de controle externo acreditam que não podem controlar suas vidas, e que forças externas ditam seu destino. Esta crença pode ser verdadeira ou falsa. Já pessoas com lócus de controle interno percebem-se no controle, sendo elas mesmas a força que dirige suas vidas.
É claro que, na verdade, nossas vidas são determinadas tanto por nossas decisões (lócus interno) quanto por fatores do ambiente (lócus externo). A percepção que temos de nosso lócus de controle, portanto, não é um reflexo direto da realidade, mas de como enxergamos a realidade e como decidimos agir com base em nossas crenças.
- Lócus de controle interno: Ao acreditarmos que temos controle sobre nossas vidas, automaticamente agimos com maior segurança. Essa confiança em si mesmo gera calma e reduz nossos medos e receios de tomar iniciativa. Isso aumenta nossas chances de sucesso e nosso bem-estar psicológico (incluindo nossa autoestima). Tendemos a planejar mais, pois entendemos que nosso destino está em nossas mãos, e assim alcançamos mais facilmente nossos objetivos.
- Lócus de controle externo: Quando nos percebemos impotentes, à mercê do mundo, nós nos retraímos, receosos e desesperançados. Nossas chances de fracasso, assim, são maiores, refletindo nossa postura mais passiva e nosso pessimismo. Nós nos sentimos mentalmente fragilizados, o que frequentemente leva a neuroses e depressão. Ao acreditarmos que os outros controlam nossa vida, todo tipo de sentimento negativo acaba surgindo: ressentimento, frustração, ansiedade, raiva, inveja, ódio, desejo de vingança.
E isso nos leva de volta a Paulo Freire e o estoicismo.
O debate que presenciei havia iniciado com esta postagem: "Se trocassem o ensino do Paulo Freire pelo estoicismo, não teríamos tantos jovens ressentidos e frustrados nas escolas e na vida". Apesar de um tanto reducionista, a frase tem seu mérito. Enquanto a filosofia que associamos a Freire promove um lócus de controle externo, o estoicismo compele, pelo contrário, a um lócus interno.
O intuito do estoicismo é empoderar o indivíduo, ensinando-o a controlar seu destino (isto é, as coisas que ele é capaz de controlar) e a parar de se preocupar ou sofrer inutilmente com coisas que não é capaz controlar. Já a filosofia freireana, abertamente marxista, busca convencer as pessoas, por meio da conscientização de classe, que o indivíduo é oprimido, que não tem controle se não se juntar a um coletivo militante, e que a única forma de conquistar este controle é por meio de uma transformação radical do sistema (revolução).
Pouca gente conhece de fato a obra de Paulo Freire, o que leva muitos a terem uma visão distorcida do que ele defendia. Há quem elogie Freire sem saber que ele era marxista — ignorância facilmente corrigível com a leitura de seus livros.
A Pedagogia do Oprimido, por exemplo, traz a narrativa da luta de classes, caracterizando alunos como oprimidos; Política e Educação defende a transformação das salas de aula em palcos de militância para a doutrinação ideológica pelo professor; Conscientização é um eufemismo que significa "ensinar os alunos a seguir nossa ideologia"; e Pedagogia da Indignação é uma clara incitação à revolta. Além destas, há muitas outras obras na mesma linha.
Talvez seja preciso lembrar que, na época em que Freire escreveu seus livros, o comunismo não era visto como um dinossauro há muito extinto, incapaz de afetar o mundo real. O comunismo e o marxismo eram levados a sério pelos intelectuais, assim como a ideia de revolução. A União Soviética ainda estava em pé, e não se sabia quem sairia vitorioso da disputa capitalismo vs. comunismo. Assim, ao lermos Freire, precisamos contextualizar seu discurso conforme a militância daquela época — que almejava a derrubada do Estado democrático liberal e o fim do capitalismo.
Propondo-se a formar um educador "radical", Freire dedica a Pedagogia do Oprimido inteira a conjecturar formas de inculcar nas pessoas sua ideologia revolucionária marxista, às vezes maquiando-as com palavras bonitas como liberdade e pensamento crítico (duas coisas que não existem em um Estado comunista):
É interessante observar a advertência que faz Lukács [filósofo marxista] ao partido revolucionário que "[...] deve, para usar as palavras de Marx, explicar às massas a sua própria ação, não só para garantir a continuidade das experiências revolucionárias do proletariado, mas também para ativar conscientemente o desenvolvimento posterior destas experiências."
— Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido
Embora a filosofia freireana se declare "empoderante", "criadora de pensamento crítico", o que ela promove, de fato, é a condição de vítima e de dependência nos indivíduos: a única forma de deixar de ser oprimido, para Freire, é o fim do capitalismo (a transformação radical do mundo todo).
O indivíduo, assim, é des-empoderado e forçado a ser um militante frustrado a vida toda, já que, é claro, a utopia nunca irá chegar. Ao ter como objetivo a transformação radical de toda a sociedade, a pessoa está destinada ao fracasso e à frustração. Seu lócus de controle estará nos políticos, nos movimentos de ativismo — e como ele não poderá controlar nada disso, viverá impotente, indignado e ressentido.
Veja, por exemplo, o gráfico abaixo:
Esta é uma comparação entre liberais (de esquerda) e conservadores (de direita) nos Estados Unidos, em que se avalia o nível de preocupação ética que os indivíduos têm em relação ao que está próximo deles e em relação ao que está distante. Enquanto conservadores se preocupam mais em defender sua família, seus amigos e sua comunidade, os liberais dão pouca atenção ao que está próximo e projetam sua preocupação ao que está longe. Como efeito inevitável, os conservadores têm maior capacidade de exercer influência positiva sobre os assuntos que lhes preocupam, devido à proximidade e à maior simplicidade dos problemas que encontram. Já os liberais acabam tendo pouco ou nenhum controle sobre as causas que defendem, por serem abrangentes demais (podendo envolver toda a humanidade).
É claro que nem todo indivíduo de esquerda é marxista, e que nem todo conservador tem um lócus de controle interno. Mas quando agrupamos a postura ideológica das pessoas, padrões bastante claros emergem.
Surge daí a incompreensão entre esquerda e direita: a esquerda vê a direita como sem empatia, "sem coração", enquanto a direita vê a esquerda como irrealista, delirante.
Mas também se explica por que pessoas de esquerda tendem a ser mais dependentes do Estado (lócus de controle externo), e costumam defender maior interversão estatal. E isso explica por que pessoas de centro e direita não enxergam o mercado de trabalho como opressor, e à maneira estoica, aceitam o sistema e buscam navegar por ele até o sucesso, em vez de reclamar, revoltar-se ou pedir que tudo venha abaixo.
Essas diferenças de postura são tão significativas que, às vezes, um bater de olhos em uma pessoa já é suficiente para nos informar onde está localizado seu lócus de controle:
Enquanto a filosofia freireana ensina o indivíduo a ser perpetuamente dependente de fatores externos, fazendo-o acreditar ser indefeso e o incentivando a tentar vencer na base do choro, do protesto, da vitimização (como se o mundo lhe devesse alguma coisa), o estoicismo permite às pessoas identificar o que realmente está sob seu controle, promove o empoderamento real do ser humano, e ensina que o mundo não nos deve nada.
Estes são alguns pensamentos estoicos de filósofos clássicos:
Você tem poder sobre sua mente — não sobre eventos externos. Perceba isso e você encontrará a sua força.
— Marco Aurélio
A felicidade de sua vida depende da qualidade de seus pensamentos.
— Marco Aurélio
Não explique sua filosofia, mas sim incorpore-a.
— Epicteto
Se você está angustiado por causa de eventos externos, a sua dor não se deve à coisa em si, mas à sua estimativa dela; e isso você tem o poder de revogar a qualquer momento.
— Marco Aurélio
Assim, talvez não seja uma boa ideia inculcar as novas gerações com a crença de que todo trabalho é exploração, que todo patrão é malvado, e que quem possui mais é opressor: isso apenas levará o indivíduo ao fracasso, à inveja e ao ressentimento. Nunca funciona, exceto para angariar votos. O inverso disso, porém, talvez ajude: uma educação para a resiliência, para o autocontrole, para a autonomia. O estoicismo pode contribuir muito com isso.