VERDE
Os dedos de vidro pendurados apontam para baixo. A luz, ao deslizar pelo vidro, derrama uma poça verde. O dia inteiro os dez dedos do lustre derramam verde no mármore. As penas dos periquitos — seus gritos dissonantes — cortantes lâminas de palmeiras — verdes também; verdes agulhas reluzindo no sol. Mas não para o duro vidro de gotejar sobre o mármore; sobre a areia do deserto as poças ficam suspensas; por elas cambaleiam camelos; as poças se assentam no mármore; juncos as margeiam; e ervas se grudam nelas; aqui e ali uma flor branca; o sapo salta por cima; de noite as estrelas são afixadas intactas. Aproxima-se a noite, e o verde, varrido pela sombra, vai para cima da lareira; a superfície enrugada do oceano. Não há navios chegando; as ondas a esmo balançam sob o céu vazio. A noite avança; das agulhas agora pingam traços de azul. O verde ficou de fora.
AZUL
O monstro de nariz achatado surge na superfície e esguicha por suas rudes narinas duas colunas de água que, de um branco ardente no centro, ao redor se espalham numa orla de borrifos azuis. A tela preta do seu couro é riscada por pinceladas azuis. Enchendo-se de água pela boca e as narinas, pesado de tanta água ele afunda, e o azul se fecha sobre ele, a procurar por artes mágicas os seixos polidos dos seus olhos. Lançado à praia ei-lo que jaz, rude, obtuso, soltando escamas secas e azuis. O azul metálico delas mancha na praia o ferro enferrujado. São azuis as nervuras do barco a remo que afundou. Sob os sinos azuis rola uma onda. Mas é diferente o da catedral, frio, cheio de incenso, um azul desmaiado, com véus de madonas.
Virginia Woolf