A porta do banheiro se abriu e a negra Irene entrou com uma toalha na mão. Pendurou-a na torneira e ficou me olhando, as munhecas na cintura.
— Já vi tudo, esse banho não prestou.
Não contestei, a mãe sempre dizia: "Cuidado com essa tal de Irene". E me cobri com a toalha.
Há uma crendice popular que suspeita das pessoas magras e considera as gordas dignas de confiança. Irene era baixa, larga, redonda, mas — dizia a mãe — como confiar em quem botava homem de noite no quintal? Do que ocorria, entre gemidos, suspiros, correrias, nada se sabia, senão que parecia amor de gato. E que Irene no outro dia despertava de maus bofes, circulava pela casa como um torpedo submarino, derrubando copos, panelas e até pote com folhagem, era um deus-nos-acuda e a mãe se arreliava: "Abram alas que aí vem a patrola do dáier". Passava tão ligeiro que deixava um ventinho atrás, às vezes com a blusa se abrindo e uma teta do lado de fora. A mãe explodia: "Esconde o ubre, oferecida". E a mandava encilhar os peitos numa camiseta de física. Irene, com lágrimas nos olhos, ia se debruçar no tanque. Arrancava a camiseta e passava a mão na roupa suja, misturando tudo: os sutiãs da mãe com cheirinho de alfazema, os carpins azedos do pai, os panos da casa, os guardanapos e as próprias calças dela, que cheiravam a sovaco. Ensaboava tudo junto e esfregava às bofetadas, a teta se balançando sobre o tanque como um pêndulo furioso.
Mas a mim me esfregava Irene com brandura.
— Baixa mais a cabeça, seu.
E olha que limpinho dos anzóis carapuça, agora vai tirando a toalha e não carece envermelhar, seu colhudinho.
— Levanta.
Me ensaboou com espalhafato. No instante em que tocou nas minhas partes olhava para o lado, erguendo as sobrancelhas, tão espessas que pareciam dois bigodes.
— Pronto, prontinho, vem aqui que eu te seco.
Ajoelhou-se, mordendo a língua, perigosamente próxima a soberba carapinha, floresta onde habitavam leões ferozes. Um talquinho, frô? E com o tempo aprendi que na linguagem dela frô era véspera de ataque.
— Bonitinho — disse, entre nuvens de talco. — Ui, como é durão!
Arregalava os olhos, mas o assombro era fingido. E sabia ser jeitosa, querendo, essa tal de Irene, fazia tudo de mansinho, delicadamente, como se tivesse nas mãos um bibelô de porcelana. Às vezes ria sozinha, decerto redimida naquela casa em que uma teta pendurada dava escândalo.
— Foi bom? Gostou?
Levantou-se, apertando as cadeiras doídas. De novo me cobri com a toalha e então ela me agarrou, me beijou na boca com violência.
— Tu é meu!
Espiou pela porta, escutou e saiu, me deixando todo branco de talco, grogue e com um porre de fumo na boca.