Poucas décadas nos separam de uma das maiores reviravoltas culturais da humanidade: a Revolução dos Incels.
Hoje vistos como uma massa descoordenada (e patética) de homens jovens rejeitados pelo sexo oposto, os incels a cada dia crescem em número. E assim como seus batalhões, a cada dia também cresce sua insatisfação com a sociedade, sua frustração com as mulheres e sua revolta contra o sistema.
E assim como os proletários russos uniram-se para derrubar o sistema czarista na Revolução Russa, ou como a plebe e os burgueses colocaram abaixo a monarquia na Revolução Francesa, os incels também verão seu dia de vingança.
Enquanto os proletários, a plebe e a burguesia viam-se oprimidos pelo sistema social vigente, tratados como lixo humano pelas classes dominantes, os incels enxergam-se em situação muito semelhante. Incapazes de formar relações românticas, devido à rejeição das mulheres, os incels sentem-se como os proletários a quem era rejeitado trabalho ou o mínimo de alimento. E da mesma forma que muitos proletários, sua indignação irá se transformar em revanchismo e fúria sanguinária.
Os efeitos nefastos já são vistos hoje. Muitos já associam o movimento incel ao extremismo político, a discursos de ódio e a atos terroristas. Mas a reação social a este fenômeno não tem ajudado em nada — pelo contrário, só tem piorado.
Isto porque, apesar de todo o desprezo nutrido pelos incels, em boa parte devido ao sexismo disseminado entre eles, criticá-los e humilhá-los publicamente não os fará desaparecer. Pesquisas por todo o Ocidente apontam que cada vez menos jovens têm acesso a relacionamentos amorosos e sexo, em especial os homens. E como a necessidade visceral por amor e satisfação sexual é uma das mais primordiais para o ser humano, sua falta só pode levar a transtornos psicológicos, depressão, ressentimento e, em algum ponto, à revolta social de quem já não tem mais nada a perder.
Uma solução pacífica talvez fosse possível. Se a sociedade tratasse o sofrimento dos homens com a mesma empatia com que trata o sofrimento das mulheres, talvez tivéssemos paz. Se a sociedade tivesse entendido a necessidade de amor e de uma vida sexual saudável entre homens da mesma forma como o entende entre as mulheres, talvez tivéssemos paz. Mas num futuro próximo, as chances de negociar com os revoltosos incels irá expirar. O ressentimento transbordará para além de qualquer reconciliação.
A Revolução Incel porá fim aos direitos femininos. Nenhum patriarcado histórico se assemelha ao novo império opressor que se formará: as mulheres serão propriedade masculina, escravas do berço ao túmulo, transportadas em gaiolas ou pela coleira. Casamentos serão celebrados via compra de espécimes femininos, que por costume dormirão fora de casa, no quintal, em casinhas de mulheres.
Eis o abominável futuro que nos aguarda, damas e cavalheiros. Deixamos os jovens esquisitos, socialmente inaptos, deprimidos e impopulares, completamente desamparados, e os ignoramos; vimos seu sofrimento crescer, sua revolta aumentar, e apenas debochamos; assistimos à sua transformação em monstros, perdendo sua empatia ou piedade, e nada fizemos para apaziguar o conflito; quando o destino chegar, não poderemos sequer nos queixar.
O provérbio africano já alertava:
A criança que não é abraçada pela vila vai queimá-la para sentir seu calor.