Não tenha certeza absoluta de nada.
A menos que você seja Deus.
Em uma das máximas de Bertrand Russell, em seu célebre decálogo, o filósofo aconselha: Não tenha certeza absoluta de nada. A razão é simples: manter uma certeza absoluta é julgar-se infalível. É crer que, apesar das limitações da cognição humana, as chances de se estar errado são zero.
Há cada vez mais gente cheia de certezas. Têm teorias para tudo... sem se darem conta, erguem assim as próprias desgraças, porque assim criam as suas sempre grandes ilusões a que se seguem, invariavelmente, as terríveis desilusões. — José Luís Nunes Martins
O remédio para a tendência humana às certezas absolutas, ou mesmo as infundadas, é o ceticismo. Ele permite ao indivíduo filtrar as informações que recebe, desempenhando um verdadeiro pensamento crítico (não confundir com o "pensamento crítico" das militâncias, que se traduz por "não use seu pensamento crítico, aceite o dogma e seja 100% contra aquilo que definimos como o inimigo, jamais questionando a doutrina."). Com o ceticismo, é possível estabelecer uma base razoavelmente sólida para entender o mundo, sintetizando novas ideias e evoluindo quando necessário.
Para muita gente, porém, a palavra ceticismo tem uma conotação negativa. Por que será? Será o desconforto do ego humano, ao ser confrontado com o fato de ter estado errado? Como dizem, "é mais fácil enganar uma pessoa do que convencê-la de que foi enganada". (Esta frase costuma ser atribuída a Mark Twain, mas como somos céticos, verificamos que não existe comprovação de que ele tenha dito isso; a mensagem, entretanto, continua valendo).
Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que pelo menos um vez em sua vida você duvide, ao máximo que puder, de todas as coisas. — René Descartes
O ceticismo é uma das posturas mentais mais eficientes contra o fanatismo, seja religioso, seja ideológico. No cotidiano, ele muitas vezes previne as pessoas de serem enganadas, ajudando-as a fazer melhores escolhas, com base na lógica e em evidências. Com uma mentalidade cética, o indivíduo é capaz de entender melhor a realidade à sua volta, pois não aceitará qualquer explicação que lhe venha à cabeça ou que outras pessoas lhe forneçam.
Ser capaz de colocar continuamente em questão as próprias opiniões: esta é, para mim, a condição preliminar de qualquer inteligência. — Italo Calvino
Certezas absolutas, por outro lado, são aquelas que não podem ser alteradas por meio de evidências. São aquelas crenças que nenhuma prova do mundo pode desfazer. Elas impedem o indivíduo de evoluir intelectualmente. E é bastante razoável que tanto religiosos quanto agnósticos ou ateus adotem esse ceticismo em relação a qualquer crença absoluta: não sendo o ser humano um deus, não lhe caberia, por lógica, julgar-se incapaz de erro em qualquer assunto.
Não faz sentido aceitar noções como a de "minha verdade pessoal", ou crenças baseadas em esoterismo, ou pseudociências. Elas podem ser divertidas, mas devem ser tratadas como tal: entretenimento. O ideal é que mantenhamos a mente aberta, é claro, mas tomando cuidado com fraudes, leituras frias e teorias mirabolantes. A vida é muito complicada, e navegar por ela com coordenadas falsas pode ser desastroso.
E sempre se pergunte: e se eu estiver errado?