Os vícios e virtudes que você pratica
definirão seu valor para as outras pessoas.
Tudo o que você faz importa. Algumas ações são grandiosas, outras ridiculamente insignificantes — como coçar o nariz. Mas tudo importa: mesmo as pequenas coisas eventualmente acumulam-se em hábitos, e hábitos e posturas constituem seu caráter.
Sempre foi parte do senso comum falar-se em virtudes e vícios, isto é, hábitos construtivos e hábitos deletérios ao indivíduo e à sociedade. Porque, é evidente, eles existem, e impactam nossas vidas. Mas desde a popularização do slogan "viva e deixe viver" (que não é um mau slogan), nossa cultura passou a incorporar mais e mais o relativismo ético: bom ou ruim, certo e errado, não passariam de pontos de vista, conforme o gosto e os interesses de cada um.
A partir dessa premissa, toda ou qualquer consideração moral pode ser lançada pela janela, quando conveniente. O que resta é a vontade narcísica do ser humano atomizado, egocentrado e solapsista, e a crença de que os fins justificam os meios (isto é, "tudo o que me beneficia é permissível").
Camille Paglia, uma acadêmica feminista (mas não progressista, espantosamente), tem apontado que a decadência moral de uma sociedade tende a causar a degeneração desta própria sociedade, já que para uma civilização funcionar, é essencial que a maior parte de seus membros aja em cooperação e de forma construtiva, e ética. As sociedades são frágeis: elas se assentam 100% sobre as ações individuais; remova o indivíduo e sua atuação no mundo, e nada sobra da civilização. Eis a essencialidade das virtudes para a sobrevivência de uma sociedade.
Mas como discernir o que é virtuoso, e o que é vicioso?
Alguns buscam respostas na Bíblia, outros na filosofia ética; outros se amparam no julgamentos de amigos ou familiares. Cada situação da vida apresentará um dilema próprio. Ainda assim, arriscamos algumas ideias.
A primeira, e talvez a mais importante, é evitar ao máximo a violência. Às vezes, ela será inevitável: é um dever do indivíduo defender a si mesmo e àquelas que estão indefesos, pelo uso da legítima defesa; mas nunca inicie a violência, em especial contra os mais fracos — e isso inclui as crianças. Não há nada mais traumático do que ser espancado, abusado fisicamente, por aqueles a quem você mais ama, por aqueles em que você mais confia, por ter cometido algum ato supérfluo e comum à infância, pelas mãos de adultos muito mais fortes e experientes, numa brutalidade covarde e desnecessária.
De resto, o caminho da virtude é, obviamente, a eliminação dos vícios, tornando-se uma presença objetivamente positiva no mundo. Cultive boas relações com tudo — com as pessoas, com os animais, e até mesmo com os objetos: porque embora algumas coisas, como seu computador, não sintam dor, é você mesmo quem paga o preço de tratá-las com hostilidade, ao deixar-se dominar pela ira.
Se há uma forma simplificada de resumir as virtudes, é esta: faça com que sua presença torne o mundo melhor do que seria sem ela.
Comece pelo que está mais próximo de você, e amplie o escopo na medida de suas capacidades. Mas comece por você mesmo: sua saúde, sua alimentação, sua atividade física, sua higiene e aparência. Você saberá que está no caminho certo quando sentir orgulho de si mesmo, não pelo que você, mas pelo que você faz (isto é, suas conquistas). Não há lógica em orgulhar-se por ter nascido alto, ou bonito, ou de certa raça ou sexo; mas se orgulhar de seus méritos é uma recompensa saudável, e uma das motivações para que se faça qualquer coisa na vida.
Conhece-se a árvore pelos seus frutos. É nas ações que verificamos o caráter.
Minha filosofia, na sua essência, é o conceito de Homem como um ser heroico, tendo a felicidade como o propósito moral da sua vida, a conquista produtiva como sua mais nobre atividade, e a razão como seu único referencial. — Ayn Rand
Ayn Rand vê cada ser humano como herói porque, como libertária, ela acredita do empoderamento máximo do indivíduo. Assim, todo ser humano está destinado a ser um herói em sua própria jornada, soberano de seu próprio reino, senhor de seu destino.
O psicanalista Carl Jung também enxergava o ser humano como protagonista de uma jornada heroica, uma trajetória de vida que, singela na maioria dos casos, é traduzida pelos mitos como uma empreitada épica. Ao desenvolver-se como pessoa, e no transcender da imaturidade juvenil, o ser humano precisa encarar diversos ritos de passagem. Em geral, seu maior inimigo está em si mesmo: são seus medos, seus vícios, seus traumas.
Onde estiver seu medo, aí estará sua tarefa. — Carl Jung
Esses medos, dragões simbólicos a atormentar a mente humana, precisam ser vencidos para que nosso velho eu morra, dando lugar ao novo eu. A sociedade contemporânea, entretanto, eliminou a maior parte dos ritos de passagem. A menina já não tem sua jornada para tornar-se mulher, nem o menino para tornar-se homem. Seguem, ambos, infantilizados até idade avançada, confusos quanto ao seu papel no mundo, quanto à sua própria identidade, e quanto ao modo de lidar com o sexo oposto. São especialmente imaturos em relação às autoridades: por jamais terem enfrentando o dragão simbólico (o que lhes possibilitaria tomar o lugar simbólico do pai/mãe, tornando-se soberanos de si e autoridades de seu próprio destino), eles vivem com pavor da liberdade, delegando escolhas cruciais sobre suas vidas a terceiros.
A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade. — Sigmund Freud
No entanto, a vida é curta demais para vivermos como ovelhas, como gado, passivos, dependentes e obedientes ao tirano da moda. A vida vale muito, muito mais do que isso. "Nossa existência", escreve Vladimir Nabokov, "não é mais que um curto circuito de luz entre duas eternidades de escuridão". É breve, única e, por isso mesmo, preciosa. Tomemos as rédeas enquanto há tempo.
O tempo é teu capital; tens de o saber utilizar. Perder tempo é estragar a vida. — Franz Kafka