Desconstrução da Natureza Humana: Masculinidade e Feminilidade em Crise | Fantástica Cultural

Artigo Desconstrução da Natureza Humana: Masculinidade e Feminilidade em Crise

Desconstrução da Natureza Humana: Masculinidade e Feminilidade em Crise

Por Paulo Nunes ⋅ 7 set. 2022
Compartilhar pelo FacebookCompartilhar por WhatsAppCitar este artigo

"O erro interpretativo das ideologias progressistas é julgar que tudo, ou quase tudo, na polaridade dos sexos é uma construção social."

Arte de Boris Vallejo
Arte de Boris Vallejo

A polaridade entre o masculino e o feminino é conhecida por praticamente todas as culturas, tendo sido celebrada como parte integral da experiência humana desde a aurora das civilizações. Autores como Carl Jung e Joseph Campbell, partindo das teorias psicanalíticas de Freud, identificaram em seus trabalhos a universalidade dos traços arquetípicos atribuídos ao homem e à mulher — quase unânimes entre todos os povos e em todas as épocas.

Na biologia, tal fenômeno é entendido como reflexo do dimorfismo das espécies (isto é, as características marcadamente distintas entre o macho e a fêmea). As diferenças entre os sexos, porém, não se limitam à forma corporal: embora a masculinidade e a feminilidade sejam frequentemente representadas pelas diferenças físicas entre homem e mulher, em sua essência são atributos da personalidade e do comportamento.

Entre as correntes ideológicas progressistas, entretanto, observa-se um estranho antagonismo à natureza humana: a realidade psicobiológica A ideia de construção social tem servido de base para a chamada desconstrução da masculinidade e da feminilidade arquetípicas. Sob essa perspectiva, a mente humana é uma tábula rasa, vazia no instante do nascimento, e inteiramente adaptável a toda e qualquer modelagem social. é vista como uma prisão da qual o indivíduo precisa se libertar, como se as leis da natureza (e as características inatas dos organismos vivos) oprimissem o ser humano.

No meio científico, não há a menor dúvida de que para muitos padrões biológicos existem exceções. Nem todo indivíduo será heterossexual; nem todo heterossexual se alinhará inteiramente com os traços arquetípicos de seu sexo; e assim por diante. Também não há dúvida de que existe considerável influência social sobre a psicologia humana, podendo os modelos de masculinidade e feminilidade sofrer certas transformações de acordo com a cultura.

O erro interpretativo das ideologias progressistas é julgar que tudo, ou quase tudo, na polaridade dos sexos é uma construção social.

O fio vermelho do destino, colagem de Jolene Casko @jolenecasko
O fio vermelho do destino, colagem de Jolene Casko @jolenecasko

Expandida das universidades para a educação básica e para a cultura popular, a ideia de construção social tem servido de base para a chamada desconstrução da masculinidade e da feminilidade arquetípicas. Sob essa perspectiva, a mente humana é uma tábula rasa, vazia no instante do nascimento, e inteiramente adaptável a toda e qualquer modelagem social.

As consequências dessa abordagem, contudo, têm se mostrado desastrosas para a psique humana, assim como para os relacionamentos e as relações sociais em geral.

Isso não deveria causar surpresa. A divisão dos membros de uma espécie nos polos masculino e feminino é uma característica crucial das dinâmicas sociais e sexuais. Essa orientação pré-programada garante a complementariedade das ações dos membros de uma espécie (machos e fêmeas) para a propagação dos genes, e essas diferenças sexuais estão presentes tanto do corpo quando na mente.

Agir de forma masculina ou feminina pode significar ações diferentes dependendo da espécie, mas essas atitudes são primariamente programadas pelos genes. Em indivíduos mais complexos, como os seres humanos, A maior parte do que perseguimos na vida, para nossa realização e satisfação, são determinações psicobiológicas, resultado de milhões de anos de evolução. a programação instintiva pode em certa medida ser alterada ou mesmo rejeitada através da cultura ou de condicionamento social; mas a rejeição do instinto e da psique arquetípica tem um preço, muitas vezes levando a pessoa ao adoecimento mental.

Em suma, o ser humano não escolhe o que o faz feliz. O ser humano não escolhe se será heterossexual ou homossexual, se sentirá prazer ao se alimentar, se apreciará o afeto de outras pessoas. A maior parte do que perseguimos na vida, para nossa realização e satisfação, são determinações psicobiológicas, resultado de milhões de anos de evolução. São imperativos psicológicos que não podem ser alterados por condicionamento social.

Arte de Boris Vallejo
Arte de Boris Vallejo

Assim, a realização pessoal só é possível quando o ser humano sente-se centrado em sua natureza — isto é, quando não há fracionamento psíquico.

A maior parte dos homens, por exemplo, tenderá a se sentir mais confortável, e com maior autoestima, ao adotar atitudes e valores da masculinidade arquetípica. Valores associados ao masculino, como bravura, autossuficiência, fortitude, têm sido criticados e menosprezados por homens que adotam uma "masculinidade alternativa". Mas estes mesmos homens admiram estes traços quando os enxergam em mulheres. É difícil crer que o "homem alternativo" de fato admire homens covardes, dependentes e frágeis (o contrário dos valores mencionados). Ao rejeitarem as atitudes e valores propriamente masculinos, é pouco provável que se sentirão satisfeitos consigo mesmos, como homens, e é pouco provável que serão bons parceiros em seus relacionamentos com mulheres.

Arte de Julie Bell
Arte de Julie Bell

Nas relações heterossexuais, é notável que cada sexo tende a procurar no outro aquilo que não tem em si (de forma desenvolvida). É a feminilidade que atrai o homem heterossexual, e é a masculinidade que atrai a mulher heterossexual. Até mesmo entre indivíduos gays, nota-se, em muitos casos, certo arranjo com as polaridades masculina e feminina se complementando; muitas vezes, há um indivíduo com atitudes e/ou aparência mais masculina, e outro com atitudes e/ou aparência mais feminina.

E se você ainda não notou a tendência contemporânea à desconstrução dos padrões masculinos e femininos, está na hora de começar a prestar atenção. Está em toda parte.

A feminilidade dita tradicional é denunciada como "conservadora", como uma submissão aos homens, uma docilidade abjeta, e os traços valorizados em mulheres passam a ser precisamente os traços masculinos; estes mesmos traços, no entanto, são considerados tóxicos nos homens, que são incentivados a serem mais sensíveis, vulneráveis e femininos.

casal

No fundo, porém, as mulheres desprezam o homem frágil, pois não é isso que procuram em um parceiro, nem é isso que as estimula sexualmente. E os homens também tendem a rejeitar mulheres masculinizadas, muitas vezes devido à sua belicosidade nos relacionamentos.

Pouca gente tem problemas em reconhecer que a sexualidade está profundamente enraizada no indivíduo, e que não pode ser alterada socialmente. Sabe-se, por exemplo, que campos de "conversão gay" não funcionam, e que seu único resultado observável é causar sofrimento aos indivíduos. Por que, então, ideologias contemporâneas têm insistido em tentar desconstruir as bases instintivas da masculinidade e da feminilidade, fatores cruciais para uma vida humana saudável?

casal personalidade

foto do autor

Paulo Nunes

Escritor, editor, ilustrador e pesquisador



SÉRIE NUM FUTURO PRÓXIMO

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

NUNCA PERCA UM POST