Antigamente (e como todo mundo sabe), o destino mais comum de todo indivíduo era casar e ter filhos. O divórcio e a solteirice vitalícia eram exceções. No caso feminino, era predominante o temor de "ficar para titia" — algo embaraçoso, dada a impressão de que, nesses casos, a mulher havia sido rejeitada por todos os possíveis pretendentes, e que falhou em constituir família.
Mas isso era antigamente. Hoje as expectativas da família e da sociedade tendem a ser ignoradas, ou intencionalmente contrariadas, em favor de uma liberdade individual sem precedentes. E o empoderamento do indivíduo, é claro, é algo positivo. Entretanto, essa liberdade acaba multiplicando as opções de vida; e sem os moldes Se as mulheres mais velhas têm falhado em instruir as mais jovens, também as mais jovens parecem não querer escutar. Assim, o privilégio de ser uma mulher jovem e bonita só é percebido quando começa a desaparecer. sociais tradicionais, que, corretos ou incorretos, serviam de guia, muitos passam a se sentir confusos e perdidos. "O que devo fazer de mim mesmo?"
Para o bem ou para o mal, a pressão familiar e social para o casamento levava as pessoas a resolverem este aspecto da vida bastante cedo (geralmente antes dos trinta), servindo esta união como base para amparar as próximas fases da vida. Para além do romance, do amor e do companheirismo, o casamento tem funções bastante práticas para a vida adulta. O romantismo irrealista dos filmes, séries e novelas, porém, parece ter alterado as expectativas das pessoas, levando-as a idealizar uma forma de relacionamento inalcançável ou insustentável.
Hoje, é comum que jovens evitem o casamento (e principalmente ter filhos) mesmo após encontrarem um par que julgam ideal. Há uma pressão psicológica para aproveitar a vida ao máximo, o que às vezes significa, no campo dos relacionamentos, trocar periodicamente de parceiro. Os laços precisam ser mantidos superficiais o suficiente para permitir a quebra do relacionamento, na hora da troca — que às vezes já é planejada desde o início da relação, faltando apenas decidir-se quando e com quem.
É compreensível: homens querem ganhar experiência e fortificar sua autoestima ao confirmarem que são capazes de seduzir e conquistar um bom número de parceiras. Estabelecer a monogamia muito cedo pode comprometer esse desejo. Para as mulheres, a motivação é semelhante, embora mais voltada para a degustação de experiências diferentes.
Há não muito tempo, essas práticas ocorriam principalmente na adolescência e nos primeiros anos da vida adulta, em uma fase experimental em que as pessoas ganhavam experiência amorosa. Hoje, essa fase pode se estender por toda a vida, sendo limitada apenas pela capacidade do indivíduo de atrair parceiros (que diminui com o envelhecimento).
Como resultado, muitos chegam aos trinta com uma alta contagem de relacionamentos e, consequentemente, com uma infinidade de términos, dramas e decepções. Em geral, já estão bastante desgastados devido à sequência de frustrações amorosas, cínicos em relação ao amor e desconfortavelmente pragmáticos e utilitaristas na escolha de parceiros.
Um dos fenômenos mais comuns (e trágicos) relacionados à constante troca de parceiros é a chamada "parede" (the wall), contra a qual as mulheres muitas vezes dão de cara ao chegarem aos trinta. É quando muitas percebem-se no limite de seu período fértil e com sua atratividade em acelerado declínio. Não raro veem-se em desespero, e frequentemente deprimidas, ao compreenderem que suas chances de arranjar um bom relacionamento estão prestes a acabar.
A surpresa é particularmente dolorosa para as mulheres que nunca foram informadas sobre essa realidade dos ciclos da vida feminina. Se as mulheres mais velhas têm falhado em As chances de uma união acabar em divórcio são cada vez maiores, tornando o investimento pessoal (afetivo, financeiro, de tempo) muito menos compensatório. instruir as mais jovens, também as mais jovens parecem não querer escutar. Assim, o privilégio de ser uma mulher jovem e bonita só é percebido quando começa a desaparecer. É comum que essas mulheres relatem que "se sentem invisíveis", ao não mais receberem atenção masculina, nem sorrisos e elogios diários.
Mulheres nessa situação comumente passam a agir com desespero no plano amoroso. Isso não apenas afasta alguns homens, como também prejudica o bom julgamento da mulher, que, afoita, pode fazer escolhas impensadas ou arruinar suas chances com bons candidatos, ao apressar o desenvolvimento da relação ou exigir demais antes da hora.
Já da parte dos homens, é cada vez mais comum ouvir-se que casar é uma péssima ideia. Tem-se dito que homens evitam o casamento porque temem o compromisso e "não querem crescer", mas pelo que se observa de seus depoimentos, a principal preocupação masculina tem sido os altos índices de divórcio, geralmente iniciado pelas mulheres, e as consequências legais desses divórcios: a apropriação de renda pela parceira e a alienação parental.
As chances de uma união acabar em divórcio são cada vez maiores, tornando o investimento pessoal (afetivo, financeiro, de tempo) muito menos compensatório. É doloroso para os homens serem afastados de seus filhos, e dadas as chances de isso ocorrer em sequência ao divórcio (mais de 87%), a parentalidade também se torna cada vez menos atrativa para os homens.
E não para por aí. Até mesmo o namoro, tratado legalmente como união estável, pode levar à pilhagem dos bens de um indivíduo em favor do outro, bastando que o ex-parceiro menos abastado deseje acionar a força do Estado para apropriar-se dos bens alheios (a que não deveria ter qualquer direito, na ausência de um contrato de divisão de bens). Nestes casos, a Justiça dá cobertura ética e legal ao ladrão (o ex-parceiro expropriador).
E mesmo no caso de relações mais superficiais, como encontros de uma noite, ou sexo casual, há o perigo das acusações falsas de abuso ou estupro. Na verdade, esse perigo existe até em relações de trabalho. Dada a resposta brutal do Estado e da sociedade a esses crimes (assédio e violação sexual), a mera alegação pode (e frequentemente consegue) arruinar a vida de um homem inocente — não sendo difícil imaginar que mulheres de péssimo caráter, vingativas, ciumentas ou à procura de atenção pública e simpatia, possam se aproveitar disso por meio de testemunhos falsos.
Esse fenômeno intensificou-se especialmente a partir de 2017, com a popularização do movimento #MeToo. Embora a iniciativa busque promover a justa denúncia e punição de assédios contra mulheres, uma de suas posturas foi alvo de polêmicas desde o início: a noção de que a acusação feminina deva sempre ser tomada como verdadeira. Essa ilusão de que mulheres nunca (ou raramente) abusariam da confiança da Justiça, porém, foi despedaçada com a transmissão ao vivo do julgamento de Johnny Depp vs. Amber Heard. Amber, ex-esposa de Depp, o havia acusado e processado por violência doméstica, fato posteriormente provado como falso. O que, para muitos, sempre foi óbvio tornara-se mais claro para parte mais ampla da população: mau-caratismo não tem sexo.
E para se ter uma ideia de o quanto as injustiças ainda podem piorar, foi aprovada na Espanha, em 2022, uma lei que anula o princípio de inocência em casos de acusação de estupro. A acusação da mulher é tomada como verdade incontestável. Sem brincadeira: para haver consentimento, a mulher deve assinar um termo em que aceita a "penetração". Caso contrário, poderá alegar estupro após um ato sexual consentido, situação em que o homem será preso sumariamente. Eis a igualdade feminista chegando ao poder.
Já para as mulheres sem uma carreira sólida, o casamento oferece um risco específico: o divórcio iniciado pelo marido, que a deixará sem recursos para se manter. A mulher que se dedica aos cuidados do lar fica especialmente vulnerável a essa situação, ainda mais após certa idade; isso tende a colocá-la à mercê do marido, devido à dependência financeira. E como a confiança entre os sexos anda bastante baixa, a ideia de entregar toda a responsabilidade de sustento ao parceiro pode parecer arriscada demais.
Assim, para quem não quer passar a última metade de sua vida sozinho, velho demais para arranjar um companheiro ou ter filhos, e vivendo abandonado em algum asilo ou apartamento tomado por gatos, o alinhamento dos planos de vida (e dos valores em comum) é uma prioridade desde cedo.
E, infelizmente, não anda nada fácil.