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Decálogo ContraCultural

Por Paulo Nunes


Nestes dez tópicos, elaborados a partir do conhecimento científico e da sabedoria filosófica de incontáveis autores, apresentamos em detalhes uma visão de mundo mais lógica, mais justa e mais saudável para nos guiarmos na vida e em sociedade, na busca por uma humanidade mais coesa, mais racional, mais ética, mais próspera, mais humana e mais feliz.


1.

Busque a verdade.
Nunca vale a pena se esconder dela.

spock star trek

Infelizmente, o ser humano não evoluiu para ser racional. Ele evoluiu para satisfazer suas pulsões naturais. Para isso, ele desenvolveu a capacidade de racionalizar os fatos, assim como seus medos e paixões, criando narrativas (verdadeiras ou falsas) para justificar seus atos e para explicar, às vezes de forma equivocada, a realidade.

Na nossa contracultura, seguimos a lógica, exatamente como Spock: vivemos com base nas evidências e buscamos a verdade, seja ela qual for, e independentemente de ela nos agradar ou nos beneficiar. As consequências de estar errado e persistir no erro podem arruinar uma vida, ou milhares de vidas, dependendo do nível de influência do indivíduo.

Nosso cérebro, porém, quer nos tornar escravos de nossas emoções e preconceitos, devido à forma como evoluímos: nossa mente quer nos convencer de que sempre estamos certos, e que se sentimos estar certos, é porque estamos certos. O efeito Dunning-Kruger é apenas um dos vários exemplos de nossos bugs cognitivos.

carl sagan"Para mim, é muito melhor compreender o Universo como ele realmente é do que persistir na ilusão, por mais satisfatória e tranquilizadora que seja." — Carl Sagan, livro O Mundo Assombrado pelos Demônios.

Como o mundo é caótico e perigoso, o ser humano anseia acreditar que entende a realidade à sua volta, para se sentir seguro. Mas o cérebro é preguiçoso, e às vezes aceita qualquer explicação convincente como a palavra final. E como essas compreensões do mundo servem de alicerce para a autoconfiança das pessoas, elas tendem a rejeitar qualquer ideia contrária à sua.

E essa realidade humana só tem piorado na cultura contemporânea, uma era em que os indivíduos têm se tornado cada vez mais psicologicamente sensíveis a ideias contrárias às suas, apresentando profunda fragilidade intelectual. Entretanto, como tem apontado o comentarista Ben Shapiro, os fatos não se importam com nossos sentimentos. Se o ser humano busca evoluir e se tornar mentalmente resiliente, não lhe cabe fugir amedrontado de meros fatos da realidade, como se o conhecimento por si só fosse capaz de feri-lo.

Os seres humanos têm uma incrível capacidade de acreditar no que escolhem — e de excluir o que é doloroso. — Mr. Spock, Star Trek

Para escapar ao máximo dessa armadilha da imaturidade intelectual, aprenda a desvincular o que você sabe daquilo que você é: assim, você poderá trocar de ideias livremente quando descobrir que está errado, de forma flexível e sem ferir seu orgulho, conforme novos fatos e explicações venham à luz.


2.

Cultive o humor. Ele excita a inteligência,
cria solidariedade e concilia diferenças.

charlie chaplin

Nos dias de hoje, seria inconcebível uma contracultura que não defendesse vigorosamente o humor. E essa defesa é necessária porque, com muitos têm notado, ele está sob severo ataque.

Assim como os censores da Inquisição, o ativismo do politicamente correto tem varrido o humor da cultura e das mídias, coagindo comediantes e humoristas a se autocercearem para evitar a ruína de suas carreiras. O humor satírico, irônico, perspicaz, tem sido substituído por uma forma anêmica e insincera de fazer graça.

A inserção da militância no humor é sua sentença de morte: toda ou qualquer graça é-lhe esvaziada pelo julgamento severo e intolerante da ideologia. A brincadeira acaba, o prazer desaparece.

E no entanto, o riso da ironia, do deboche, da sátira ou do nonsense muitas vezes é a única forma que temos de nos mantermos sãos diante dos desafios da vida:

O humorismo alivia-nos das vicissitudes da vida, ativando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo. — Charlie Chaplin

Talvez seja por isso que o politicamente correto abomina que riam de seus preceitos: eles são de todo risíveis, ridículos, e basta uma gargalhada coletiva e franca às custas de sua ideologia para que ninguém mais o leve a sério.

meme inteligencia insightO politicamente correto é fascismo disfarçado de boas maneiras.
— George Carlin

O humor provocativo entre indivíduos, aliás, é um sinal de que as pessoas confiam umas nas outras, a ponto de se ofenderem de brincadeira, e rirem juntas, pois sabem que são aliadas.

É no excesso neurótico de autocensura, de elogios forçados, de concordância fingida, que se formam conflitos interpessoais. Vive-se com medo de pisar fora da linha, de ser cancelado por um comentário interpretado incorretamente, ou denunciado por pura malícia; forma-se um ambiente social tóxico de paranoia e falsidade. Ao castrar o humor, castra-se a sinceridade; as pessoas passam a viver atrás de máscaras, incapazes de desenvolver verdadeiras conexões humanas.

Nós vivemos numa geração de pessoas emocionalmente fracas. Tudo tem que ser abafado porque é ofensivo, inclusive a verdade. — Keanu Reeves

Nossa contracultura pratica a celebração da diferença. Todos os seres humanos, independentemente de suas características, são bem-vindos, convidados a participar do discurso e do humor. Respeitamos a capacidade mental e emocional das pessoas, e não supomos que pessoas pertencentes a minorias, por exemplo, possuam algum tipo de fragilidade mental que lhes obrigue a viver sob constante proteção, demandando cuidados especiais. A risada é coletiva, e nela todos são iguais.

Se você tiver uma reação emocional a tudo o que lhe for dito, você sempre sofrerá. O verdadeiro poder é sentar e observar tudo com lógica. Se as palavras controlam você, isso significa que qualquer um pode controlá-lo. — Bruce Lee

Sejamos francos: a vida é absurda. Ria dela, ria de si mesmo, não leve tudo tão a sério, e aproveite a viagem.


3.

Não tenha certeza absoluta de nada.
A menos que você seja Deus.

Em uma das máximas de Bertrand Russell, em seu célebre decálogo, o filósofo aconselha: Não tenha certeza absoluta de nada. A razão é simples: manter uma certeza absoluta é julgar-se infalível. É crer que, apesar das limitações da cognição humana, as chances de se estar errado são zero.

Há cada vez mais gente cheia de certezas. Têm teorias para tudo... sem se darem conta, erguem assim as próprias desgraças, porque assim criam as suas sempre grandes ilusões a que se seguem, invariavelmente, as terríveis desilusões. — José Luís Nunes Martins

O remédio para a tendência humana às certezas absolutas, ou mesmo as infundadas, é o ceticismo. Ele permite ao indivíduo filtrar as informações que recebe, desempenhando um verdadeiro pensamento crítico (não confundir com o "pensamento crítico" das militâncias, que se traduz por "não use seu pensamento crítico, aceite o dogma e seja 100% contra aquilo que definimos como o inimigo, jamais questionando a doutrina."). Com o ceticismo, é possível estabelecer uma base razoavelmente sólida para entender o mundo, sintetizando novas ideias e evoluindo quando necessário.

cerebro em um jarro

Para muita gente, porém, a palavra ceticismo tem uma conotação negativa. Por que será? Será o desconforto do ego humano, ao ser confrontado com o fato de ter estado errado? Como dizem, "é mais fácil enganar uma pessoa do que convencê-la de que foi enganada". (Esta frase costuma ser atribuída a Mark Twain, mas como somos céticos, verificamos que não existe comprovação de que ele tenha dito isso; a mensagem, entretanto, continua valendo).

Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que pelo menos um vez em sua vida você duvide, ao máximo que puder, de todas as coisas. — René Descartes

O ceticismo é uma das posturas mentais mais eficientes contra o fanatismo, seja religioso, seja ideológico. No cotidiano, ele muitas vezes previne as pessoas de serem enganadas, ajudando-as a fazer melhores escolhas, com base na lógica e em evidências. Com uma mentalidade cética, o indivíduo é capaz de entender melhor a realidade à sua volta, pois não aceitará qualquer explicação que lhe venha à cabeça ou que outras pessoas lhe forneçam.

Ser capaz de colocar continuamente em questão as próprias opiniões: esta é, para mim, a condição preliminar de qualquer inteligência. — Italo Calvino

fe cega

Certezas absolutas, por outro lado, são aquelas que não podem ser alteradas por meio de evidências. São aquelas crenças que nenhuma prova do mundo pode desfazer. Elas impedem o indivíduo de evoluir intelectualmente. E é bastante razoável que tanto religiosos quanto agnósticos ou ateus adotem esse ceticismo em relação a qualquer crença absoluta: não sendo o ser humano um deus, não lhe caberia, por lógica, julgar-se incapaz de erro em qualquer assunto.

Nossa proposta contracultural é que coloquem de lado ideias como "minha verdade pessoal", ou crenças baseadas em esoterismo, ou pseudociências. Elas podem ser divertidas, mas devem ser tratadas como tal: entretenimento. O ideal é que mantenhamos a mente aberta, é claro, mas tomando cuidado com fraudes, leituras frias e teorias mirabolantes. A vida é muito complicada, e navegar por ela com coordenadas falsas pode ser desastroso.

E sempre se pergunte: e se eu estiver errado?


4.

Jamais julgue alguém baseado nas características
atribuídas a um coletivo.

borg star trekEm Star Trek, os Borg são uma espécie de organismos cibernéticos conectados a uma "mente de colmeia": seus membros não pensam por si só, são meros drones servindo coletivamente a uma vontade superior que os controla. Um dos aspectos abordados é a perda da identidade individual, que ocorre quando um organismo é assimilado pelo coletivo. A ideia para os Borg teria surgido em referência à mentalidade coletivista da União Soviética, que ainda existia durante a produção da série de TV.

Aqui, estamos falando de coletivismo e, em específico, as chamadas políticas identitárias, que agrupam seres humanos conforme características biológicas (racialização, por exemplo), assumindo que todos os membros de uma raça, sexo, etc., tenham as mesmas inclinações políticas, e que devam apoiar o grupo político que os lidera sob pena de serem considerados traidores.

Nessa lógica, alguns militantes dizem falar em nome de todos os cidadãos que compartilham sua característica biológica. O que esses ativistas assumem é que os indivíduos não têm ou não devem ter autonomia intelectual, e que sua orientação política é biologicamente determinada. Esta é base das políticas identitárias, e é a partir dela que seus ativistas julgam os seres humanos: pelo grupo demográfico a que pertencem.

Mas não há sentido em julgar um indivíduo pelos atos de outro. Não se julga João pelos atos de Pedro. Da mesma forma, não faz sentido julgar de forma coletiva um grupo demográfico inteiro (raça, sexo, orientação sexual). Não pode haver justiça em atribuir sentença ou compensação a todos os integrantes de uma raça, sexo, etc., visto que a cada qual caberia um julgamento diferente. O indivíduo deve ser julgado individualmente, segundo suas ações, e somente segundo suas ações.

Nas palavras de Aldous Huxley, em seu Regresso ao Admirável Mundo Novo (capítulo Educação para a Liberdade"):

Quem experimenta os sentimentos que fazem agir, a vontade que supera os obstáculos? Certamente não será o ambiente social; pois um grupo não é um organismo, e sim uma cega organização sem consciência. Tudo o que é realizado numa sociedade é feito pelos indivíduos. — Aldous Huxley

nazistas coletivistasUm exemplo histórico de justiça social é o julgamento coletivo de todos os judeus como inimigos do povo alemão. Não seria surpresa se, na visão dos nazistas, os judeus tivessem uma dívida história a ser paga ao povo alemão.

Esta deveria ser a base da justiça. De forma geral, esta filosofia tem sido um dos pilares de todas as democracias liberais, mas uma corrente ideológica passou recentemente a negá-la: a justiça social. Segundo esta abominação política, deve-se julgar os membros de um grupo usando como base uma noção estereotipada de todos os seus integrantes. Trata-se, portanto, de uma ética análoga ao racismo.

Justiça e justiça social são antagônicas: onde há uma, não pode haver a outra. O termo justiça social é um oximoro. Ao contrário da justiça tradicional, que em seu ideal é cega (e julga a todos com os mesmos pesos), a justiça social é a encarnação contemporânea do racismo, ao estabelecer privilégios ou barreiras conforme as características imutáveis dos indivíduos. É a negação explícita do que pregava Martin Luther King:

... que um dia meus quatro filhos vivam em uma nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter. — Martin Luther King


5.

A mera existência impossibilita a neutralidade.
Seja uma influência positiva no mundo.

prehistoriaPintura de Emmanuel Benner

Existir, como ser humano, é apropriar-se de uma porção de átomos e de energia do meio ambiente e usá-los como veículo biológico.

Este veículo requer interações com o ambiente: ele requer combustíveis e suprimentos como oxigênio, água, minerais, vitaminas, gorduras, proteínas; ele precisa predar outros seres vivos para sobreviver. E se a mera existência orgânica impossibilita a neutralidade, a situação torna-se ainda mais complexa quando pensamos nas interações sociais. Então, dado que ninguém pode ser neutro, a cada indivíduo impõe-se uma decisão inescapável: como agir no mundo?

Tal decisão não é simples, pois ela definirá nosso caráter. E isso é especialmente verdadeiro nas relações humanas:

Existem apenas três opções para lidar com as pessoas: escravizando-se, tiranizando-as ou negociando. — Jordan B. Peterson

Para o psicólogo clínico Jordan Peterson, as relações saudáveis em uma sociedade são aquelas baseadas em negociações, isto é, com acordo entre as partes. A única alternativa à negociação é a violação ao respeito mútuo, por meio da violência ou da ameaça à violência, formando uma relação entre escravos e tiranos. É comum que a relação se configure desta forma quando a parte tirânica sabe que perderia no campo do debate e da negociação. Como apontou Isaac Asimov, "a violência é o último refúgio do incompetente".

Qualquer que seja a dinâmica, impera em nós a necessidade de encontrar um sentido de vida, algo que nos motive a acordar pela manhã, realizar certa tarefa, avançar em um projeto, enfrentar desafios e celebrar as conquistas. Em nosso cotidiano, todos vivemos como heróis de nossa própria Odisseia, replicando os passos do herói de mil faces de Joseph Campbell.

Ultrapassar obstáculos é o prazer pleno da existência, sejam eles de tipo material, como nas ações e nos exercícios, sejam de tipo espiritual, como nos estudos e nas investigações. A luta contra as adversidades e a vitória tornam o homem feliz. Se lhe faltar a oportunidade, irá criá-la como puder. — Arthur Schopenhauer

luke skywalkerLuke Skywalker — arquétipo do herói

Na busca por encarnar o mito heroico, porém, é tentador criar vilões-espantalhos contra os quais lutar (como os moinhos contra os quais Dom Quixote lutava, acreditando serem gigantes), apenas para satisfazer nosso ego sedento pela sensação de conquista e autovalor.

E é na juventude que essa pulsão se manifesta com maior ímpeto: qualquer causa, bem entendida pelo indivíduo ou não, pode servir de desculpa para um ativismo ferrenho, tribalismo, fanatismo e violência. A lógica por traz da militância é superficial e, em última instância, irrelevante. Muitos jovens soldados nazistas, por exemplo, acreditavam piamente serem heróis, em uma cruzada nobre que seria celebrada por décadas.

Não raro, o indivíduo que quer salvar o mundo não é sequer capaz de pôr em ordem sua própria vida. Trata-se de um delírio juvenil muito comum: julgar-se na posse da solução para os problemas da humanidade, ainda que sua vida pessoal seja um caos. Psicologicamente falando, sua ânsia de resolver problemas abstratos e distantes é apenas uma fuga da realidade próxima, frente à qual se sente impotente.

Pensar grandes coisas é o melhor pretexto para não fazer as pequenas. — Jacinto Benavente y Martinez

Como tem insistido Dr. Jordan Peterson há anos, limpe o seu quarto antes de tentar reorganizar algo infinitamente mais complexo: a humanidade.

Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas no seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores. Tudo o que fazemos produz efeito, causa algum impacto. — Dalai Lama

jordan petersonJordan B. Peterson

A grande maioria das pessoas nunca fará nada extraordinário. Ainda assim, cada qual pode contribuir muito para a felicidade e o bem-estar das pessoas à sua volta: sua família, sua comunidade, etc., nas pequenas ações do dia a dia. Como coloca Phillips Brooks, "o caráter pode se manifestar nos grandes momentos, mas ele é formado nos pequenos".

Assim, a melhor solução para a onda de niilismo que tem assolado muita gente nas últimas décadas é a adoção de responsabilidades, como pequenas missões a serem cumpridas pelo indivíduo. Para quem não vê sentido em suas vidas, ou que não enxerguem uma trajetória de vida a ser seguida, a adoção de responsabilidade e de uma postura madura é o antídoto mais eficiente:

Você quer dar sentido à sua vida? Tudo o que você faz importa. Essa é a definição de uma vida com sentido. Mas tudo o que você faz importa. Você terá que carregar isso com você. — Jordan B. Peterson

A partir das pequenas e grandes coisas que você faz em sua vida, sua Odisseia pessoal irá sendo escrita. Você está, em parte, no controle dessa narrativa: não será possível decidir quais quimeras aparecerão pelo caminho, mas como protagonista, você é capaz de controlar suas ações, seu caráter. E dependendo de seus feitos, eles transcenderão a duração de sua própria existência.

O melhor uso da vida consiste em gastá-la por alguma coisa que dure mais que a própria vida. — William James


6.

Defenda a total liberdade de expressão. A lei
que silencia inimigos um dia o silenciará.

Outro bastião da cultura ocidental que tem estado sob severo ataque é o direito à livre expressão. Espalha-se a ideia de que um discurso que ofenda alguém deve ser censurado, ou seu perpetrador punido, e de que alguns agentes sociais têm direito a decidir o que é verdade ou não, calando ou punindo os demais.

Entretanto, o princípio da liberdade de expressão não existe para casos em que as pessoas estão de acordo. Ele existe para garantir que, quando há conflito, as pessoas que discordam possam resolver a disputa através de palavras. Ele existe também para que o ser humano ventile suas frustrações por meio de palavras, e não da violência, e para que, através do humor (do leve ao ofensivo), sintetize emoções reprimidas e lide melhor com os desafios da vida cotidiana.

Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir. — George Orwell

george orwellSe você ainda não leu 1984, de George Orwell, faça um favor a si mesmo: arrange uma cópia e leia com muita, muita atenção.

Não fosse esse direito, não seria permitido a nenhum ser humano protestar contra um sistema corrupto ou autoritário, nem se revoltar contra atos antiéticos ou criminosos, nem ser sincero quando a verdade possa ofender alguém, pois estaria expressando "conteúdo odioso" aos ouvintes. Movimentos políticos já tem se valido dessa estratégia para silenciar críticas, abrindo-lhes maiores possibilidades de impunidade. Até mesmo os mais poderosos políticos do mundo têm utilizado esse truque, alegando serem vítimas de sexismo ou racismo para rechaçar críticas perfeitamente válidas às suas ações.

Mas como lidar com agressões verbais? Não é complicado: lide da mesma forma como nós lidamos, por exemplo, com uma traição de casamento. Não é ilegal trair o parceiro, mas é antiético; da mesma forma, ofensas e discursos rudes também devem ser julgados como éticos ou antiéticos, mas a resposta que damos a eles deve ser a mesma que daríamos a uma traição: ou as pessoas se dissociam, ou resolvem suas diferenças conversando. A resolução deve ocorrer no âmbito social, não no jurídico. Boicote empresas ou mídias, por exemplo. Critique. Rebata discurso com mais discurso. Como diria o mandaloriano: this is the way.

Imagine como solucionar um caso em que duas pessoas se sentem ofendidas uma com a outra. Ambas podem enxergar na outra um discurso de ódio. A óbvia subjetividade desse tipo de acusação é um dos indícios de que não há como julgar tais casos objetivamente. Para não mencionar o ridículo de se criminalizar um sentimento.

A liberdade de expressão absoluta, assim, é a única forma verdadeiramente democrática de lidar com opiniões diferentes em uma sociedade sem criar um instrumento de censura abusivo que silenciará segundo a vontade de quem estiver no poder.

Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam. — George Orwell

Não se engane: qualquer argumento contra a liberdade de expressão baseado em ideias como "evitar ofensas e expressões de ódio" ou "impedir desinformação" é um cavalo de Troia para silenciar oponentes ideológicos.

protesto contra censura brasilDurante a ditadura militar, a vanguarda de esquerda era contra a censura. O governo argumentava que os conteúdos suprimidos eram ofensivos ou perigosos para a sociedade brasileira. Hoje, este exato discurso está na boca da mesma vanguarda de esquerda. Ironia demais?

Embora haja uma enxurrada de fake news sendo transmitida pela internet, pela mídia mainstream e por políticos, é absolutamente inadmissível que governos ou corporações nomeiem a si mesmos como árbitros da verdade. É inteiramente anticientífico conceder a qualquer pessoa, instituição ou governo o monopólio da verdade, visto que nossa compreensão da realidade é alcançada por meio da pluralidade de ideias, do debate, das contestações, e do escrutínio de conceitos absurdos, ou mesmo ofensivos, que podem se revelar corretos no futuro.

Com o primeiro elo, a corrente é forjada. O primeiro discurso censurado, o primeiro pensamento proibido, a primeira liberdade negada, acorrenta-nos a todos irrevogavelmente. — Jean-Luc Picard, Star Trek

Em suma, todos os agentes sociais são, em tese, igualmente propensos a mentir ou a se enganar, pelo que a liberdade de expressão, como direito humano inalienável, deve ser o primeiro pilar de uma sociedade livre.


7.

Separe a ciência da ideologia,
ou a ciência morrerá.

isaac asimovIsaac Asimov

O método científico, como técnica para gerar conhecimento, é a ferramenta mais poderosa já desenvolvida pela humanidade.

Seria impossível calcular todos os benefícios gerados pelo seu uso. Nos últimos séculos, cada ser humano ganhou, em média, várias décadas de vida; a mortalidade infantil, tão comum no passado, foi reduzida dramaticamente; milhares de doenças passaram a ser curadas via medicamentos, vacinação ou cirurgias. Os índices globais de fome têm caído consistentemente, devido às novas formas de produção e ao enriquecimento generalizado da civilização. E isso para não mencionar todas as facilidades tecnológicas que tornam o cotidiano menos sofrido, abrindo tempo para que as pessoas se dediquem a outras atividades que não a mera sobrevivência.

É claro que para cada problema resolvido pela ciência, novos problemas tendem a surgir. Mas como disse Isaac Asimov, "Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los".

E ainda assim, um dos fatos básicos que a maior parte das pessoas parece não entender é que a ciência é incapaz de dizer o que devemos fazer.

Parafraseando uma fala da física teórica alemã Sabine Hossenfelder:

A ciência não pode lhe dizer se você deve pôr o dedo na tomada ou não; ela apenas pode lhe dizer que a corrente elétrica passará pelo seu corpo se você o fizer, podendo causar-lhe dano físico.

Portanto, não faz sentido falar em "seguir a ciência". Esta é uma retórica ilógica, uma desculpa usada por políticos para forçar a aceitação de suas decisões. A ciência serve para nos dizer como é a realidade, mas o que faremos em relação aos fatos é uma questão de escolha pessoal ou política. E não é de hoje que a ciência tem sido subvertida e cooptada por militantes que querem convencer a sociedade a agir segundo suas ideologias.

prometeuNa mitologia grega, o titã Prometeu rouba o fogo dos deus, fonte da consciência, do conhecimento e da engenhosidade, e o presenteia à espécie humana, permitindo à raça humana o uso da razão e o desenvolvimento das ciências e das tecnologias. — Pintura de Jan Cossiers.

O cerne deste fenômeno encontra-se no influxo de ideologias radicalizantes e intolerantes tomando espaço e hegemonia nas universidades. E as ciências humanas são o principal ninho dos ativistas. Eles não estão lá para investigar a verdade, como cientistas ou pesquisadores, mas para divulgar suas opiniões, para fortificar suas agendas políticas, valendo-se da autoridade acadêmica para desempenhar seu ativismo e, a partir dele, exercer influência sobre o resto da sociedade. A infestação é tal que já não há espaço para discordância ou verdadeiro debate; o dogma está cristalizado.

O que grande parte dos acadêmicos em ciências humanas têm feito, por todo o Ocidente, não é ciência, tampouco pesquisa; é militância. As universidades tornaram-se espaços tomados por uma única ideologia, radicalmente intolerante a qualquer outra, e em geral são financiadas com dinheiro público de contribuintes que se opõem à ideologia pela qual são forçados a pagar. Seu objetivo declarado é sempre o mesmo: salvar a sociedade de alguma mazela.

A ânsia para salvar a humanidade é quase sempre um disfarce para a ânsia de governá-la. — H.L. Mencken

Uma contracultura pró-ciência não pode tolerar a vandalização das universidades e do método científico, principalmente quando estes atos são perpetrados com financiamento público. As ciências humanas (história, filosofia, sociologia, geografia, letras, artes) contêm elementos cruciais para a definição de nossa cultura, e precisam ser salvas dos terroristas intelectuais.


8.

Preste atenção em seu inconsciente.
A maior parte de você está lá.

Humpty Dumpty, por John Tenniel (Alice no País das Maravilhas)Humpty Dumpty, por John Tenniel (Alice no País das Maravilhas)

A maior parte do que somos, do que nos constitui, reside enterrada nas profundezas do inconsciente. Ninguém sabe ao certo o que acontece lá, mas não há dúvidas entre os neurocientistas de que a atividade nos subsolos da mente nunca acaba. O cérebro nunca para de trabalhar. Entre os neurônios, quase tudo se conecta, em teias de associações cinestésicas: sons remetem a cores, cores a cheiros, cheiros a palavras, palavras a rostos, rostos a movimentos, movimentos a dores — a corrente é interminável.

Não há, portanto, qualquer contradição entre uma defesa da racionalidade e a exploração da caótica máquina de sonhos do inconsciente.

Segundo alguns psicólogos, pessoas orientadas para a direita política se dão melhor na administração de empresas no longo prazo, enquanto pessoas orientadas para a esquerda política se dão melhor na identificação de oportunidades de mercado e na criação de novos modelos de negócio. No perfil psicológico de direitistas e esquerdistas, também se identifica que os primeiros apresentam maior conscienciosidade (isto é, ser cuidadoso e diligente), enquanto os segundos apresentam maior abertura para a experiência (isto é, disposição para tentar coisas novas e potencialmente arriscadas).

yin yang

Em uma contracultura racional e construtiva, torna-se óbvio que ambos os grupos (direita e esquerda) desempenham uma função crucial na sociedade, e que os pontos de vista e estratégias descritos acima (cuidado e diligência, por um lado, e exploração e inovação, por outro) são todos válidos e complementares. É claro que a polarização política extremada pode levar à radicalização e a uma instabilidade potencialmente destrutiva, mas a solução para isso não é a erradicação de nenhum dos grupos, mas sua coexistência pacífica e coordenada.

E é a partir da exploração de ideias, da abertura da mente aos devaneios e disparates que brotam do inconsciente, que eventuais insights podem ocorrer.

Sem essa brincadeira com a fantasia, nenhum trabalho criativo jamais chegou a nascer. A dívida que devemos ao jogo da imaginação é incalculável. — Carl Jung

Embora indivíduos da esquerda política tendam a explorar mais as áreas imaginativas (criando arte, consumindo alucinógenos, ou defendendo utopias mirabolantes), todo ser humano pode explorar sua imaginação. Trata-se do mundo dos sonhos, um portal para o País das Maravilhas, fonte de fascínio infinita, que todos possuímos dentro do crânio. E foi banhando-se nesta fonte que as mais célebres obras de arte, música, literatura e cinema puderam nascer.

Eu gosto daquilo que não faz sentido, porque acorda as células cerebrais. A fantasia é um ingrediente necessário à vida. — Dr. Seuss

bilbo hobbit"Nem todos que vagam estão perdidos." — J.R.R. Tolkien

Além de toda a diversão que essas aventuras podem proporcionar, ainda se deve notar que a imaginação é o reino do que pode vir a ser. É um caos misterioso, incompreensível, mas fascinante cujo potencial criador é virtualmente infinito: de seu redemoinho de ideias absurdas, contraditórias, indizíveis, brotam as epifanias que revolucionam a humanidade.

No entanto, esteja atento para o potencial destrutivo que o inconsciente pode manifestar — as partes negativas de nossa identidade reprimida a que Carl Jung denominou de sombra.

Ainda que todos possuamos uma sombra (isto é, uma parte de nossa identidade que reprimimos, por ser inadequada frente à sociedade ou à ética), as pessoas que não reconhecem sua sombra são as mais propensas a deixá-la agir. Se a sombra é um espécie de monstro que vive em nossa mente, a melhor estratégia para controlá-la é conhecer seu comportamento e manter-se informado de onde ele está e o que está fazendo. A maior parte das pessoas, porém, ignora a existência de sua sombra; elas não a enxergam, pelo que a sombra vagueia livre, influenciando seu comportamento.

Quando saudáveis, manifestamos o que Aristóteles chamaria de "o Belo". Instintivamente, reparamos nos traços de beleza, simetria, ordem e apuro nas pessoas e no ambiente à sua volta. Uma casa caótica, assim, tende a indicar um morador mentalmente caótico (de forma geral, é claro).

carpar friedrichPintura de Caspar David Friedrich

Assim, a beleza do ambiente está associada à saúde mental e a melhora do humor, especialmente quanto associada ao contato com a natureza. A própria atividade de cultivar a beleza e a organização proporcionam benefícios cognitivos, tranquilidade e diminuição de estresse. Ao contrário, ambientes desorganizados são percebidos pela visão periférica como hostis, gerando, mesmo que de forma inconsciente, desconforto, ansiedade e irritabilidade.

Ao contrário de outros movimentos sociais que têm celebrado a feiura, a sujeira, a baixaria, a decrepitude, a vulgaridade, nossa contracultura traz de volta a beleza em toda a sua glória: na apreciação das artes visuais, da música, da arquitetura, do cinema, e na própria celebração do corpo humano, do masculino e do feminino, em suas formas áureas.

A celebração da ruína, do feio, do decadente, da degenerescência, da desconstrução de tudo, parece ser também uma manifestação do inconsciente — uma revelação do interior dos indivíduos através das características externas. Por mais deprimente que seja, talvez seja uma vantagem que se nos mostre tão evidente: assim podemos supor, ainda que com certa margem de erro, com quem estamos lidando.

Portanto, cuide do mundo à sua volta para o bem da sua mente, e cuide da sua mente, para o bem do mundo à sua volta.


9.

Sempre pense por si mesmo.
Quem pensa por você tem sua própria agenda.

barad durUm Estado para tudo controlar
Um Estado para censurar-nos
Um Estado para nos perseguir
E na tirania aprisionar-nos

Nossa contracultura não é direita ou de esquerda. Parafraseando George Lucas, há heróis [e vilões] dos dois lados. E assim como Lucas, o que enxergamos como uma problema social persistente na história da humanidade não são as diferentes preferências políticas das pessoas, nem seus modos de vida diferenciados, mas sim o autoritarismo, a tirania, a intolerância com a diferença e a supressão das liberdades. Defendemos a soberania do indivíduo acima de tudo.

Também não nos preocupamos em advogar pelo ateísmo ou, do contrário, por religiosidade. Cada um precisa encontrar seu próprio caminho no mundo, explorando possibilidades e descobrindo como melhor lidar com as questões existenciais que compartilhamos, como a iminência da morte, ou a busca por sentido. A ciência não provê evidências para nenhuma religião, mas nunca foi essa sua função. Onde a ciência é incapaz dar explicação, resta ao indivíduo buscar suas próprias conclusões. Nesse campo, o que buscamos eliminar é o fundamentalismo, o dogmatismo, a imposição de crenças e de práticas.

Deve, assim, ter ficado claro o foco desta contracultura: o empoderamento do indivíduo, de todos os indivíduo, sem distinção; e a resistência a toda ou qualquer entidade que tente tolher as liberdades individuais.

Homem Vitruviano, por Leonardo da VinciHomem Vitruviano, por Leonardo da Vinci

Buscamos o respeito e a celebração das individualidades, e a soberania do ser humano, uno, frente ao Estado e às instituições religiosas. Governos e religiões existem para servir ao homem: os primeiros devem organizar a vida em sociedade, e os últimos devem guiar seus seguidores em questões morais e espirituais. Lembre-se: o Estado serve ao povo, não o contrário; e as religiões são instituições criadas pelos homens: elas não são a manifestação de Deus, ou de deuses, mas a tentativa humana (falível e corruptível) de atender a uma vontade divina.

Portanto, toda filiação política ou religiosa deve ser acompanhada de certo ceticismo, pois todas as intuições e ideologias são passíveis de corrupção e erro. Pessoas podem ser éticas, mas entidades corporativas, em geral, são amorais: elas tendem a agir apenas em benefício próprio.

Sempre tive o senso de não me aliar nem a grupos de escoteiros nem a grupos políticos, ou mesmo intelectuais e artísticos. Todos os grupos (sobretudo os altamente filantrópicos), ao fim e ao cabo, são apenas agências de emprego para seus membros. — Millôr Fernandes.

Mas é muito difícil para as pessoas não se filiarem a algum grupo. Quando não se trata de política, então são os times de futebol, em que o homem pré-histórico pode se manifestar em plena contemporaneidade. O ser humano é geneticamente programado para isso: foi assim que nossa espécie vingou.

O animal humano, igual a todos os demais, está adaptado a um certo grau de luta pela vida e, quando sua grande riqueza permite a um Homo sapiens satisfazer sem esforço todos os seus caprichos, a simples ausência de esforço retira de sua vida um ingrediente imprescindível à felicidade. — Bertrand Russell

Evoluímos sob a pressão do perigo e dos desafios: na pré-história, a morte estava à espreita atrás de cada pedra, arbusto, ou nas sombras da noite. Vivemos assim por centenas de milhares de anos, e nos adaptamos a isso: a viver imersos em certo nível de estresse, tensão e aventura. Então, o que acontece quando removemos essa espécie de seu habitat natural?

Nossa espécie só pode sobreviver se tivermos obstáculos a serem superados. Você remove esses obstáculos. Sem eles para nos fortalecer, vamos enfraquecer e morrer — James T. Kirk, Star Trek

Ao ser privado da pressão atmosférica terrestre, o ser humano tende a apresentar diversas falhas fisiológicas, e eventualmente morre. Algo semelhante parece ocorrer quando privamos as pessoas de uma estrutura de vida minimamente estável, de compromissos e responsabilidades, com um objetivo existencial. Todo tipo de distúrbios psicológicos começa a surgir; e em meio à confusão emocional e à falta de sentido, os quatro remédios mais populares são as drogas prescritas por médicos (antidepressivos), as outras drogas, a religião e a militância política.

O fato de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que não seja completamente absurda. De fato, levando-se em conta a maioria da humanidade, é mais provável que uma opinião difundida seja tola do que sensata. — Bertrand Russell

Essa ânsia por participar de uma cruzada, fazer algo útil a alguém, de lutar por algo, seguir algum líder, venerar algum mártir, está presente em todo ser humano, em alguns mais do que em outros. É ela que conduz ao coletivismo, ao tribalismo, ao fanatismo; e é ela que leva à lealdade cega a alguma figura messiânica, que não raro conduz suas massas ao linchamento, à violência, a execuções, à guerra e à autoimolação. Essas figuras lhe parecerão benévolas, bem-intencionadas, assim como Hitler parecia à juventude hitlerista: para eles, um verdadeiro patriota.

Nos desenhos animados e filmes, os vilões são degenerados que enrolam os bigodes e dão gargalhadas de júbilo pela própria maldade. Na vida real, os vilões estão convencidos de sua integridade. — Steven Pinker

Portanto, pense por si mesmo, e atente para isso: se você faz parte de um grupo ou ideologia que o atacaria, humilharia ou expulsaria caso você apresentasse alguma discordância, ou ousasse sugerir que a ideologia oposta tivesse certo nível de razão em algum tópico, então este grupo ou ideologia é um culto.

red pill matrixA escolha é sua.

Em especial, tome cuidado com as ideias patogênicas. O termo, cunhado pelo psicólogo evolucionista Gad Saad (livro The Parasitic Mind: How Infectious Ideas Are Killing Common Sense), designa o modo viral como certas ideias se espalham pela sociedade, parasitando a mente dos indivíduos e promovendo ações concretas (e deletérias) no mundo real.

E na dúvida sobre o que fazer de sua vida, ao invés de desperdiçá-la quebrando vidraças, atando fogo na propriedade alheia ou doutrinando a infância com ideias idiotizantes que as transformarão em adultos disfuncionais, frustrados e desempregados, busque duas coisas: a introspecção, ou o conhece-te a ti mesmo, para entender-se melhor e compreender o que lhe trará satisfação no curto e no longo prazo; e a exploração das possibilidades reais no mundo, testando atividades, hobbies, profissões, e conhecendo pessoas e suas diferentes perspectivas, o que lhe proporcionará um repertório rico de insights opções.

É como diz o Gato de Cheshire:

— Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui? — perguntou Alice.
— Depende bastante de para onde você quer ir — respondeu o Gato.
Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas


10.

Os vícios e virtudes que você pratica
definirão seu valor para as outras pessoas.

dumbledore harry potter"Haverá um momento em que teremos que escolher entre o que é fácil e o que é certo." — Alvo Dumbledore, Harry Potter

Tudo o que você faz importa. Algumas ações são grandiosas, outras ridiculamente insignificantes — como coçar o nariz. Mas tudo importa: mesmo as pequenas coisas eventualmente acumulam-se em hábitos, e hábitos e posturas constituem seu caráter.

Sempre foi parte do senso comum falar-se em virtudes e vícios, isto é, hábitos construtivos e hábitos deletérios ao indivíduo e à sociedade. Porque, é evidente, eles existem, e impactam nossas vidas. Mas desde a popularização do slogan "viva e deixe viver" (que não é um mau slogan), nossa cultura passou a incorporar mais e mais o relativismo ético: bom ou ruim, certo e errado, não passariam de pontos de vista, conforme o gosto e os interesses de cada um.

A partir dessa premissa, toda ou qualquer consideração moral pode ser lançada pela janela, quando conveniente. O que resta é a vontade narcísica do ser humano atomizado, egocentrado e solapsista, e a crença de que os fins justificam os meios (isto é, "tudo o que me beneficia é permissível").

Camille Paglia, uma acadêmica feminista (mas não progressista, espantosamente), tem apontado que a decadência moral de uma sociedade tende a causar a degeneração desta própria sociedade, já que para uma civilização funcionar, é essencial que a maior parte de seus membros aja em cooperação e de forma construtiva, e ética. As sociedades são frágeis: elas se assentam 100% sobre as ações individuais; remova o indivíduo e sua atuação no mundo, e nada sobra da civilização. Eis a essencialidade das virtudes para a sobrevivência de uma sociedade.

Mas como discernir o que é virtuoso, e o que é vicioso?

Alguns buscam respostas na Bíblia, outros na filosofia ética; outros se amparam no julgamentos de amigos ou familiares. Cada situação da vida apresentará um dilema próprio. Ainda assim, nossa contracultura arrisca algumas ideias.

dragao caosDragão do Caos

A primeira, e talvez a mais importante, é evitar ao máximo a violência. Às vezes, ela será inevitável: é um dever do indivíduo defender a si mesmo e àquelas que estão indefesos, pelo uso da legítima defesa; mas nunca inicie a violência, em especial contra os mais fracos — e isso inclui as crianças. Não há nada mais traumático do que ser espancado, abusado fisicamente, por aqueles a quem você mais ama, por aqueles em que você mais confia, por ter cometido algum ato supérfluo e comum à infância, pelas mãos de adultos muito mais fortes e experientes, numa brutalidade covarde e desnecessária.

De resto, o caminho da virtude é, obviamente, a eliminação dos vícios, tornando-se uma presença objetivamente positiva no mundo. Cultive boas relações com tudo — com as pessoas, com os animais, e até mesmo com os objetos: porque embora algumas coisas, como seu computador, não sintam dor, é você mesmo quem paga o preço de tratá-las com hostilidade, ao deixar-se dominar pela ira.

Se há uma forma simplificada de resumir as virtudes, é esta: faça com que sua presença torne o mundo melhor do que seria sem ela.

Comece pelo que está mais próximo de você, e amplie o escopo na medida de suas capacidades. Mas comece por você mesmo: sua saúde, sua alimentação, sua atividade física, sua higiene e aparência. Você saberá que está no caminho certo quando sentir orgulho de si mesmo, não pelo que você, mas pelo que você faz (isto é, suas conquistas). Não há lógica em orgulhar-se por ter nascido alto, ou bonito, ou de certa raça ou sexo; mas se orgulhar de seus méritos é uma recompensa saudável, e uma das motivações para que se faça qualquer coisa na vida.

Conhece-se a árvore pelos seus frutos. É nas ações que verificamos o caráter.

Minha filosofia, na sua essência, é o conceito de Homem como um ser heroico, tendo a felicidade como o propósito moral da sua vida, a conquista produtiva como sua mais nobre atividade, e a razão como seu único referencial. — Ayn Rand

Ayn Rand vê cada ser humano como herói porque, como libertária, ela acredita do empoderamento máximo do indivíduo. Assim, todo ser humano está destinado a ser um herói em sua própria jornada, soberano de seu próprio reino, senhor de seu destino.

O psicanalista Carl Jung também enxergava o ser humano como protagonista de uma jornada heroica, uma trajetória de vida que, singela na maioria dos casos, é traduzida pelos mitos como uma empreitada épica. Ao desenvolver-se como pessoa, e no transcender da imaturidade juvenil, o ser humano precisa encarar diversos ritos de passagem. Em geral, seu maior inimigo está em si mesmo: são seus medos, seus vícios, seus traumas.

Onde estiver seu medo, aí estará sua tarefa. — Carl Jung

Esses medos, dragões simbólicos a atormentar a mente humana, precisam ser vencidos para que nosso velho eu morra, dando lugar ao novo eu. A sociedade contemporânea, entretanto, eliminou a maior parte dos ritos de passagem. A menina já não tem sua jornada para tornar-se mulher, nem o menino para tornar-se homem. Seguem, ambos, infantilizados até idade avançada, confusos quanto ao seu papel no mundo, quanto à sua própria identidade, e quanto ao modo de lidar com o sexo oposto. São especialmente imaturos em relação às autoridades: por jamais terem enfrentando o dragão simbólico (o que lhes possibilitaria tomar o lugar simbólico do pai/mãe, tornando-se soberanos de si e autoridades de seu próprio destino), eles vivem com pavor da liberdade, delegando escolhas cruciais sobre suas vidas a terceiros.

A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade. — Sigmund Freud

No entanto, a vida é curta demais para vivermos como ovelhas, como gado, passivos, dependentes e obedientes ao tirano da moda. A vida vale muito, muito mais do que isso. "Nossa existência", escreve Vladimir Nabokov, "não é mais que um curto circuito de luz entre duas eternidades de escuridão". É breve, única e, por isso mesmo, preciosa. Tomemos as rédeas enquanto há tempo.

O tempo é teu capital; tens de o saber utilizar. Perder tempo é estragar a vida. — Franz Kafka

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