A Páscoa é aquela estranha data em que as pessoas fazem festa em comemoração à morte de Jesus, na sexta-feira, e em pesar à sua ressureição, no domingo. Ou o contrário. Irá depender de você ser um cristão ou um satanista.
Mas como todos sabem, a maior parte das pessoas não lembra de religião na época de Páscoa, mas dos chocolates, dos coelhinhos mágicos e do peixe da sexta-feira santa. E embora santa, a sexta-feira não é de jejum de carne, e sim de troca de cardápio para a comilança do peixe. Em seguida, vem a comilança do chocolate, e em algumas décadas a diabetes.
Num futuro próximo, porém, o Coelhinho da Páscoa poderá finalmente virar realidade, o peixe será sintético e talvez nada impeça que Jesus Cristo seja clonado e forçado a voltar, como prometeu há dois mil anos (e até agora nada...).
Com os avanços na manipulação genética, já é possível desenhar criaturas em computadores e imprimir os genes. A técnica ainda é terrivelmente rudimentar, mas em algumas áreas já são notados progressos, como na edição de DNA para remoção de doenças congênitas em embriões e na criação de espécies novas (ou transgênicas).
É questão de tempo até que se comece a imprimir coelhinhos da Páscoa rosa para venda em massa. Quem sabe não embutimos alguns genes humanos para o pobre bichinho começar a conversar, como uma boneca falante? Com algum suborno persuasivo, os políticos concordarão que não há qualquer problema ético nisso, e liberarão a prática.
Em seguida, algum religioso maluco terá o insight de sua vida:
A prometida volta de Jesus não aconteceu ainda porque ele precisa de nós para voltar! Precisamos usar nosso avanço científico para que ele retorne e nos leve para o Céu, e este será o Juízo Final!
Um absurdo inacreditável, mas estamos em um mundo onde certas pessoas ainda acreditam que a Terra é plana, ou que astrologia é uma ciência válida para acessar a psicologia humana. Querer clonar Jesus não seria uma loucura sem precedentes.
Mas sequer seria possível? Haveria qualquer célula de Jesus remascente para a clonagem? É quase certo que não: com exceção de materiais orgânicos fossilizados em âmbar (ou seja, lacrados dentro de um contêiner natural protetor, como em Jurassic Park), todos os organismos mortos tendem a ser consumidos por bactérias, fungos, etc., até a total decomposição do DNA.
Então, o que podemos esperar mesmo é o ativismo crescente contra o consumo de carnes animais e, em algum ponto, contra o consumo de peixes, para "salvar o planeta" (ou outra balela inventada pelo Fórum Econômico Mundial, segundo o qual o homem do futuro é vegano).
Além disso, está em alta nos EUA e na Europa a laicização dos feriados, o que pode chegar aqui em breve. Os norte-americanos têm trocado o "Feliz Natal" pelo "Boas Festas" porque, devido à militância de alguns lunáticos, fazer referência a uma celebração cristã em uma "sociedade plural" é ofensivo. O mesmo valeria para a Páscoa. E lembre-se: as piores ideias norte-americanas só levam alguns meses ou anos para chegar aqui no Brasil.
Então aproveite enquanto pode o peixe não sintético, o chocolate de engorda e os feriados religiosos. O futuro não tem encarado a tradição com bons olhos.